quinta-feira, 3 de março de 2011

Perdendo uma boquinha por causa da boca

O compositor Tom Jobim era um cara muito engraçado. Ótimo papo, frasista dos bons, trocadilhista insuperável, enfim ele era uma pessoa que estava sempre com uma tirada boa. Ao ler uma biografia dele, além de se encantar com esta belíssima figura humana o leitor ri o tempo todo.

Ele contava uma história absurda sobre uma vez que foi convidado para uma festa em sua homenagem feita por uma granfina. Num determinado momento, quando apreciava uma coleção de armas junto com a dona de casa, pegou um rifle da parede para verificar a mira. A arma estava com munição e disparou matando um dos convidados. O sujeito caiu de costas no salão, com o smoking todo emppado de sangue.

De imediato, Tom virou para a anfitriã com uma mão nos lábios e comentou: "que gafe!"

Lembrei dessa história por causa desse imbróglio que fez o o sociólogo Emir Sader perder a boca na Fundação Casa de Rui Barbosa antes mesmo de ser nomeado. Como já disse aqui, nunca neste país alguém levou um pontapé na bunda com tamanha rapidez.

Mas tem a gafe. Ora, Sader xingou a irmã do Chico Buarque. Que gafe, hein? Foi encrencar logo com a irmã do Chico. 2011 ainda está no começo, mas já é a gafe do ano.

Mas feita a bobagem, é claro que, como um bom petista, o sociólogo não quer arcar com sua respónsabilidade. Agora ele culpa a direita pela sua queda mais que ligeira do cargo.

Mas que direita é essa de olho na presidência da Fundação da Casa de Rui Barbosa? Bem, aí temos a lógica petista para encarar debates. Se a Dilma Rousseff não tivesse ganhado a eleição, certamente eles estariam berrando que foi a direita que não deixou. Porém, alcançaram novamente o poder apoiados pelo que há de pior na política brasileira. Ganharam o poder juntando em torno da candidata do PT tudo quanto é cacique político safado e sua capangaiada pelo Brasil afora, inclusive a direita mais grossa que reina acima das leis nos grotões da política brasileira.

Não há nenhuma novidade nisso. É o que Lula vem fazendo desde a conquista do primeiro mandato. Mas aí eles não vêm com esse papo de culpar a direita. O Sarney que está do lado deles, com o poder inclusive sobre a área da energia, uma das mais estratégicas da atualidade, é outro homem. Não é aquela Sarney de antigamente.

Além do mais, é gente do mesmo tipo de Sader que vai ocupar a Casa de Rui Barbosa. O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos já foi confirmado no cargo. Santos tem feito um serviço bom para o PT nos últimos anos, daquela forma matreira de opinar sobre a política brasileira em artigos nos jornais como se fosse uma voz independente. Normalmente eles se identificam como professor da USP ou qualquer outra universidade de prestígio. Apoiados numa dessas siglas independentes e respeitáveis eles mandam o recado partidário como se fosse uma contribuição acadêmica ao debate político.

Santos tem um trabalho mais bem feito, o que não significa exatamente uma boa coisa, pois pode enganar melhor o leitor. Também não fuzila (ou "fusila", como escreve Sader) a pobre língua portuguesa como costuma fazer o colega defenestrado do cargo que agora vai ocupar, mas faz o serviço político escamoteado pela imagem do acadêmico, do mesmo jeito que tem feito Emir Sader e tantos outros intelectuais a serviço do lulismo. São os intelectuáulicos — opa, o Tom iria gostar dessa, mas hoje, como dá para ver pelo título da nota, estou infernal. Mas, voltando ao que eu dizia, com esses intelectuáulicos nossa universidade pública vai se desmoralizando política e intelectualmente falando, mas quem é que se importa, não é mesmo? Enquanto tem o poder, eles acham que está tudo certo.

Mas, voltando à gafe do Emir Sader, seu ataque à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, obedece à lógica do escorpião que ferroa as costas do sapo no meio do profundo rio. Nós estamos acostumados com este tipo de desqualificação vindo de petistas quando eles são contrariados. É sempre assim.

A coisa é tão grave que Sader partiu para a desqualificação sem atinar que a irmã do Chico seria sua chefe (ou chefa, como eles gostam agora). E ele ainda disse que a autista era ela. Que gafe, hein? Mas fica a lição política, ainda que involuntária, do mestre em política Emir Sader.
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POR José Pires

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