O Brasil nunca teve relações raciais em que a violência fosse predominante, como ocorreu com extrema violência no passado nos Estados Unidos. Também ao contrário do que houve entre os americanos, aqui nunca existiram políticas oficiais de segregação. Nos Estados Unidos eles tiveram numa época relativamente recente leis racistas que exigiram um grande esforço para serem abolidas, numa luta que juntou negros e brancos que abominavam o racismo. No Brasil nunca uma criança negra teve que ser escoltada por policiais federais para poder freqüentar uma escola mista. Aqui também jamais tivemos transporte público com lugares separados entre negros e brancos. E os horríveis linchamentos de negros, muito comuns em vários estados americanos, também não eram uma prática brasileira.
É um dado importante que no Brasil o preconceito contra o negro nunca tenha sido respaldado por uma política de Estado, como já aconteceu nos Estados Unidos e deu tanto trabalho e custou tantas vidas até que isso fosse abolido por lá.
Talvez até por esta facilidade natural criada por um ambiente mais tolerante, setores influentes do movimento negro arrogam uma coragem desnecessária, até porque aqui nunca houve clima para um conflito racial com níveis de violência física. E se isso ocorrer, criando uma exceção na convivência social pacífica existente entre negros e brancos, essa militância política sabe também que terão a solidariedade da quase totalidade dos brancos do país e até do que a esquerda agora começa a chamar de “elite branca”.
No sul dos Estados Unidos, conta James Lincoln Collier, na excelente biografia que escreveu de Louis Armstrong, podia ser motivo para surrar um negro o fato de algum branco julgar que ele estava “falando sem respeito”. Também no sul, um jornal podia estampar a manchete “Outro churrasco negro”, para noticiar o linchamento de um negro que tentou praticar o direito de voto. São acontecimentos que não estão muito longe no tempo.
É óbvio que num ambiente como este um branco liberal corria tanto risco quanto um negro. Talvez até mais. Em parte, é sobre isso que falam as pessoas que discordam da idéia de que exista um racismo estabelecido entre os brasileiros. É importante preservar a capacidade que negros e brancos tiveram no Brasil para conviver sem o uso da violência e sem uma separação racial restritiva como houve nos Estados Unidos. Estranhamente, parte substancial do movimento negro parece lamentar que o Brasil não tenha vivido esses conflitos. O discurso que prevalece é o da instigação e não o do entendimento. Em vez da harmonia, parece que desejam um futuro de muito sofrimento para o meu filho, que é branco, e para o filho do meu vizinho negro.
O fato é que, ao menos de fachada, grande parte dos auto-intitulados “movimentos negros” no Brasil assumem um caráter mais para Malcolm X que para um Duke Ellington. Os dois sofreram uma barbaridade com o clima racial nos Estados Unidos, mas tiveram respostas diferentes para isso. E acho que não preciso dizer qual deles contribuiu mais para a respeitabilidade dos negros americanos.
Um resultado direto do radicalismo violento de Malcolm X é o fundamentalismo islâmico de direita de Louis Farrakhan. E tem líderança de movimento negro brasileiro que ainda desejaria ter panteras negras nas nossas matas tropicais.
Duke Ellington costumava dizer que para ele não existiam raça branca e raça negra. Ele só via a raça humana. Sua obra de jazz é colocada por críticos no nível da mais moderna música clássica.
Com uma visão parecida, o artista do blues, B.B. King, deu também um toque técnico nesta questão quando, em entrevista ao crítico brasileiro Roberto Muggiati, ele disse que “a música não tem cores”. É uma opinião interessante de ser ouvida nesta época em que se vê “raiz étnica” em quase tudo. “O que chamam de blues para mim é música, apenas música”, dizia ele, “qualquer um pode tocar”. “Existe música feita por negros que não consigo ouvir, não me agrada. Não é o fato de ser negro que fará alguém um grande intérprete do blues”.
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POR José Pires
É um dado importante que no Brasil o preconceito contra o negro nunca tenha sido respaldado por uma política de Estado, como já aconteceu nos Estados Unidos e deu tanto trabalho e custou tantas vidas até que isso fosse abolido por lá.
Talvez até por esta facilidade natural criada por um ambiente mais tolerante, setores influentes do movimento negro arrogam uma coragem desnecessária, até porque aqui nunca houve clima para um conflito racial com níveis de violência física. E se isso ocorrer, criando uma exceção na convivência social pacífica existente entre negros e brancos, essa militância política sabe também que terão a solidariedade da quase totalidade dos brancos do país e até do que a esquerda agora começa a chamar de “elite branca”.
No sul dos Estados Unidos, conta James Lincoln Collier, na excelente biografia que escreveu de Louis Armstrong, podia ser motivo para surrar um negro o fato de algum branco julgar que ele estava “falando sem respeito”. Também no sul, um jornal podia estampar a manchete “Outro churrasco negro”, para noticiar o linchamento de um negro que tentou praticar o direito de voto. São acontecimentos que não estão muito longe no tempo.
É óbvio que num ambiente como este um branco liberal corria tanto risco quanto um negro. Talvez até mais. Em parte, é sobre isso que falam as pessoas que discordam da idéia de que exista um racismo estabelecido entre os brasileiros. É importante preservar a capacidade que negros e brancos tiveram no Brasil para conviver sem o uso da violência e sem uma separação racial restritiva como houve nos Estados Unidos. Estranhamente, parte substancial do movimento negro parece lamentar que o Brasil não tenha vivido esses conflitos. O discurso que prevalece é o da instigação e não o do entendimento. Em vez da harmonia, parece que desejam um futuro de muito sofrimento para o meu filho, que é branco, e para o filho do meu vizinho negro.
O fato é que, ao menos de fachada, grande parte dos auto-intitulados “movimentos negros” no Brasil assumem um caráter mais para Malcolm X que para um Duke Ellington. Os dois sofreram uma barbaridade com o clima racial nos Estados Unidos, mas tiveram respostas diferentes para isso. E acho que não preciso dizer qual deles contribuiu mais para a respeitabilidade dos negros americanos.
Um resultado direto do radicalismo violento de Malcolm X é o fundamentalismo islâmico de direita de Louis Farrakhan. E tem líderança de movimento negro brasileiro que ainda desejaria ter panteras negras nas nossas matas tropicais.
Duke Ellington costumava dizer que para ele não existiam raça branca e raça negra. Ele só via a raça humana. Sua obra de jazz é colocada por críticos no nível da mais moderna música clássica.
Com uma visão parecida, o artista do blues, B.B. King, deu também um toque técnico nesta questão quando, em entrevista ao crítico brasileiro Roberto Muggiati, ele disse que “a música não tem cores”. É uma opinião interessante de ser ouvida nesta época em que se vê “raiz étnica” em quase tudo. “O que chamam de blues para mim é música, apenas música”, dizia ele, “qualquer um pode tocar”. “Existe música feita por negros que não consigo ouvir, não me agrada. Não é o fato de ser negro que fará alguém um grande intérprete do blues”.
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POR José Pires
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