quarta-feira, 20 de abril de 2011

Joilson e Aécio Neves, dois motoristas em testes no Rio

Vem num bom momento a história do motorista carioca Joilson Chagas, que devolveu um pacote com R$ 74.800, esquecido por um passageiro no ônibus que ele dirigia. Na situação escandalosa em que está o Brasil no plano ético, gestos como o de Joilson são como uma salvação moral para os que procuram levar a vida com honestidade em meio a salafrários que roubam privilégios e se impõem socialmente com a impunidade assegurada por todos os poderes.

A situação vivida pelo motorista foi como um teste para o seu caráter. Assim como existem as tais “pegadinhas” de programas de televisão, parece que o destino criou uma “pegadinha” para ele. E que teste, não? Um bolo de setenta mil reais tem o potencial para desmontar qualquer teoria ética. Mas, apesar de não ser nenhum Weber, Joilson enfrentou de forma admirável o acontecimento, o que dá orgulho até para os que estão bem longe do fato, que somos nós todos.

Nesta época braba em que vivemos é um alívio que apareça gente como o Joilson mostrando de forma prática que nem tudo está perdido.

Precisamos muito de pessoas que mostrem que a desonestidade não impera. Gestos como o deste motorista de ônibus quebram a desesperança criada pela corrupção, uma desilusão que vem especialmente dos políticos e que mina o vigor necessário para enfrentar os problemas brasileiros e até para levar a vida, que não está nada fácil para quem vive de fato de seu próprio trabalho.

Nos mesmos dias em que Joilson enfrentou com todo o mérito sua “pegadinha” da vida, também no Rio de Janeiro o destino colocou em teste outro motorista — este até com responsabilidades que vão muito além da direção de um carro. Foi o ex-governador e atual senador Aécio Neves, que saiu muito mal no teste. Aécio foi parado por policiais trabalhando no respeito à Lei Seca, que combate o uso da bebida alcoólica por motoristas. A Lei Seca é uma lei votada por parlamentares e o mínimo que se pede é que um político respeite as leis votadas por eles mesmos.

Pois o senador estava com a carteira de habilitação vencida e se negou ao teste do bafômetro, o que é praticamente uma presunção de culpa. Aécio foi parado às três da manhã e vinha de uma festa com amigos o que, com sua fama de bom vivant, não faz crer que ele não tenha tomado um gole.

Porém, mesmo deixando pra lá o suposto alcoolismo ao volante, a situação do político mineiro não melhora. Ele estava com a carteira vencida e demonstrou surpresa com isso, o que revela como parte da classe política no Brasil vive uma vida que parece encerrada em um círculo de nobres.

Talvez seja por isso também que o ex-presidente Lula tenha pedido que o senador José Sarney não fosse “tratado como uma pessoa comum”, em razão das denúncias de corrupção no cargo de presidente do Senado.

Boa parte dos políticos brasileiros são como príncipes, que não se ocupam com afazeres de “pessoas comuns”, como a preocupação com a validade da carteira de habilitação.

Nessa relação com as “pegadinhas” de televisão, seria interessante se fosse possível inverter o destino dos dois motoristas que passaram por momentos muito especiais em suas vidas no Rio de Janeiro.

Que o motorista Joilson fosse parado por uma blitz de trânsito e o motorista Aécio encontrasse um pacotaço de mais de setenta mil reais em dinheiro.

É improvável que Joilson esteja com a carteira vencida e também é muito difícil acreditar que ele se recusaria a passar por um teste no bafômetro. Já o senador Aécio Neves dando de cara com um pacotaço de dinheiro talvez não virasse notícia nacional.
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POR José Pires

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