quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dando uma mão na faxina

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) está na praça com uma tal de frente suprapartidária de combate à corrupção. O movimento, que foi lançado na segunda-feira, tem uma concepção bem estranha. Segundo Simon, seria para dar apoio à presidente Dilma Roussef, ou, nas palavras dele, "estamos fazendo o movimento para que ela não seja isolada".

O senador é um dos que acham que a petista realmente está fazendo uma faxina em seu governo. Com sua retórica empolada, Simon faz um paralelo deste movimento que está lançando com o movimento das "Diretas Já". Além de um exagero histórico, é claro que não é possível estabelecer níveis para uma comparação como esta, mas o senador gaúcho é assim mesmo.

Simon é um dos poucos senadores brasileiros que tem uma carreira política honesta. Até as besteiras que faz, como recentemente quando requisitou a aposentadoria como governador, são movidas pela honestidade. Neste caso, ele precisava mesmo do dinheiro da aposentadoria. Mesmo tendo ocupado cargos importantes na vida política, hoje o senador é um dos raros políticos brasileiros que não enriqueceu com a política.

E deve ser também de boa fé que Simon teve a idéia deste movimento totalmente fora de contexto e com um foco nitidamente equivocado se o objetivo for mesmo o de uma faxina ética na política.

Neste aspecto, a visão de Simon é bem compartimentada. Ele acredita que Fernando Henrique e Lula não fizeram nada parecido com o que Dilma está fazendo. O senador é um exagerado. Vejam só o que ele diz: "A Dilma já demitiu de cara o maior amigo dela, o chefe da Casa Civil (Antonio Palocci). E já demitiu três ministros. Então, ela está tomando uma posição que os outros não fizeram em 16 anos". Na cabeça dele Dilma faz um governo novo e deslocado da série de governos petistas que começou com Lula.

Isso não faz sentido nem para quem gosta da Dilma. Aliás, o senador teria dificuldade de convencer disso a própria Dilma, mas para a exploração política externa está fazendo exatamente o jogo que o PT quer e para o qual convocaram inclusive marqueteiros. Mas os marqueteiros pelo menos ganham muito dinheiro para isso, o que não parece ser o caso de Simon.

Se pensa mesmo em dar uma mão para Dilma numa faxina ética a única posição que cabe ao senador é a de inocente útil.

Se o propósito é apoiar Dilma, pode acabar sendo um fortalecimento do poder petista. Seria também uma boa máscara para projetar em Dilma a imagem de reformadora, apagando sua face real, que é a de continuadora do projeto petista. Dessa forma a instrumentalização do Estado poderia continuar com muito mais eficiência do que está sendo feito pelos larápios que ela descarta de seu governo.

O movimento do senador Pedro Simon também desvia o foco da ação política mais importante neste momento, que é a instalação da CPI da Corrupção. Por que o senador não coloca seus esforços nesse sentido? Só o necessário desconto à sua honestidade é que livra Simon da suspeita de estar fazendo de forma voluntária o jogo que os petistas querem neste momento.

A briga do PT para evitar a CPI da Corrupção recebe um reforço com este movimento. Distrai a mídia do que está acontecendo com a coleta de assinaturas para a CPI no Senado e pode até dispersar a atenção da sociedade civil, de gente de bem que vai acabar desperdiçando esforço.

Repito que é preciso dar o desconto para a honestidade do senador, mas tem coisas que ela fala para defender seu movimento que exige um esforço bem grande para desconfiar de suas intenções. Sobre o risco de atrapalhar a instalação da CPI da Corrupção ele diz que a criação da CPI é "desgastar o governo, fazer oposição", já o movimento que ele lidera quer "entendimento para ter a possibilidade de iniciar o fim da impunidade".

Bem, só dá para relevar algo assim porque não existe o perigo do movimento dar certo. Basta ver a pauta do senador para prever o que vem por aí. Na primeira reunião, ele diz, será definido o convite para buscar a adesão da UNE.

Isso mesmo: ele pretende procurar a UNE para engrossar um movimento pela ética. A mesma UNE chapa-branca e dominada por um grupo partidário. A mesma UNE que desmobiliza os estudantes desde o início do governo Lula e impede qualquer ação política de cobrança ética ao governo do PT.

Às vezes dá a impressão de que o senador Pedro Simon se faz de bobo. E esse é mais um desconto que damos pra ele.
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POR José Pires

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