Lá vem o PT desmoralizar mais um assunto importante da nossa atualidade, o da violência policial e do estabelecimento do poder de polícia como força intimidadora nas cidades brasileiras.
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi a São Paulo participar de uma audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde fez várias cobranças ao governo do Estado. Lá, criticou o governo paulista por permitir no site da Rota um elogio ao golpe militar de 1964.
Li ontem a informação nos jornais e fui atrás do tal elogio. É coisa escabrosa mesmo, porém é algo muito pequeno dentro da questão problemática de tropas como a da Rota, que estão em todo o país com outros nomes . Agem como tropas militares. Parecem ser vistas pelas autoridades como uma elite policial que não se submete às leis normais.
Dificilmente iríamos saber do assunto trazido pela ministra, afinal, de tanta coisa para ler na internet, creio que os textos da Rota podem ficar para depois.
É provável até que um texto desses tenha passado pelo governador José Serra, pelo Alckmin e talvez até lá atrás pelo Covas, pela simples razão de que eles não sabiam disso.
Dentro do site da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo é uma complicação encontrar até a página da Rota. E não é pela intenção de esconder a tropa na internet, não. Parece ser incompetência mesmo de quem faz esses sites.
São cinco procedimentos para chegar até lá. E isso depois de você descobrir esses procedimentos. Mas finalmente aí está o texto que fala da história do batalhão, citando o sobre o golpe militar:
“Revolução de 1964, quando participou da derrubada do então Presidente da República João Goulart, apoiando a sociedade e as Forças Armadas, dando início ao regime militar com o Presidente Castelo Branco”.
É claro que é uma barbaridade um texto desses num site oficial do Brasil, mas a discussão acabou sendo trazida de uma forma politiqueira, partidária mesmo, o que acaba contribuindo menos para resolver a tacanhice da Secretária de Segurança paulista e mais para acirrar um tipo de discussão ideológica que no contexto é de pouco valor.
De pouco valor para a resolução da questão em vista, é claro. Para a política Maria do Rosário foi um achado que pode garantir sua reeleição para deputada federal no Rio Grande do Sul. É capaz até de estimular ambições maiores suas naquele estado, afinal ela até já quis ser prefeita de Porto Alegre.
Resumindo, na sua pequena base eleitoral este é um grande feito. Para a discussão de um assunto que realmente é importante não servirá para muita coisa. Ou melhor, vai acabar beneficiando os piores desta questão.
A ministra trouxe o assunto com aquele clima de Guerra Fria, no qual tanto a esquerda quanto a direita parecem tão confortáveis.
Segurança pública
tratada como se fosse
coisa de faroeste
A Polícia Militar é subordinada ao governador, então nada mais prático que procurar o próprio governador Geraldo Alckmin e é provável que a questão fosse resolvida sem criar um debate ideológico que pode servir só para mascarar os verdadeiros problemas nos métodos da Rota.
A última da polícia militar paulista é fazer emboscada contra assaltante. É uma técnica policial em desuso desde Dodge City, lá pelo final do século dezoito e início do dezenove, não é mesmo? É muito faroeste para o século XXI.
Eu penso que uma base produtiva para a discussão da violência policial é sua ineficiência e a deformação de qualquer sentido prático de uma polícia. Não existe nenhum exemplo de polícia violenta e eficiente. Aliás, o exemplo não aparece nem nas guerras.
Este foco para a discussão pode favorecer inclusive os direitos humanos. É muito clara a ineficácia dos barbarismos que hoje dão uma falsa impressão de segurança. Nossa polícia se move demais pela crueldade e de menos pela técnica: esta é a questão central.
Duvido que alguém consiga comprovar de forma técnica qualquer qualidade para a segurança pública em fazer emboscada junto a caixas eletrônicos de grandes bancos. Pode até não ter sido o caso, mas dá mais a impressão de um ajuste de contas. Aliás, seria melhor que fosse ajuste entre iguais, pois é bem duro viver em um país em que a polícia acha que pode fazer um bom serviço esperando os assaltantes de trens na próxima curva depois do desfiladeiro.
Mas a ministra veio com essa forma enviesada de puxar um assunto que nada mais é que criar um espaço de crítica ao governo paulista dos tucanos, como se a questão da segurança pública no Brasil fosse restrita a este ou outro partido.
Sociedade civil só
vê o problema quando o
tiro não é só em pobre
A leniência oficial com a Rota de São Paulo e todas as outras polícias de choque pelo país afora á a extrema tolerância com todo tipo de violência da polícia é um problemas social brasileiro. Até a sociedade civil tem sua parcela de responsabilidade.
Empresários, profissionais liberais, advogados, todos se calam. E isso quando não aplaudem a violência da polícia. A verdade é que a sociedade só toma tento da gravidade de conceder poder de intimidar e matar para tropas especiais quando a violência sai do âmbito dos despojados de direitos, os jovens pobres da periferia. Quando a tropa erra de alvo e pega um jovem de uma classe social mais alta, aí vem a grita. Mas dura pouco, porque logo a tropa volta sua mira para os pobres.
O PT da ministra Rosário tem fortes bancadas parlamentares em São Paulo, tanto na Assembléia quanto na Câmara municipal da capital. Então de que forma eles tem atacado o assunto?
O mesmo se pode dizer no plano federal. No âmbito do Ministério da Justiça, o assunto mais relevante para esse pessoal nos últimos tempos foi o caso Batistti. Ah, tem também a distribuição farta de dinheiro para anistiados.
Como eu já disse aqui, passaram muito tempo ocupados com a reformulação da Justiça da Itália e deixaram de lado a tragédia da segurança pública brasileira.
É claro que o texto da Rota que elogia o golpe contra um presidente eleito tem que sair de lá. Nem deveria estar em um site oficial. Se a tropa quiser fazer algo parecido, pode usar suas associações independentes, publicar anúncio em jornal, qualquer outra coisa que não usar o Estado para isso.
Democracia tem dessas coisas. É preciso conceder liberdade até para os que querem se permanecer no clima da Guerra Fria. O problema é ter ministros de Estado que também não saem deste clima.
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POR José Pires
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi a São Paulo participar de uma audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde fez várias cobranças ao governo do Estado. Lá, criticou o governo paulista por permitir no site da Rota um elogio ao golpe militar de 1964.
Li ontem a informação nos jornais e fui atrás do tal elogio. É coisa escabrosa mesmo, porém é algo muito pequeno dentro da questão problemática de tropas como a da Rota, que estão em todo o país com outros nomes . Agem como tropas militares. Parecem ser vistas pelas autoridades como uma elite policial que não se submete às leis normais.
Dificilmente iríamos saber do assunto trazido pela ministra, afinal, de tanta coisa para ler na internet, creio que os textos da Rota podem ficar para depois.
É provável até que um texto desses tenha passado pelo governador José Serra, pelo Alckmin e talvez até lá atrás pelo Covas, pela simples razão de que eles não sabiam disso.
Dentro do site da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo é uma complicação encontrar até a página da Rota. E não é pela intenção de esconder a tropa na internet, não. Parece ser incompetência mesmo de quem faz esses sites.
São cinco procedimentos para chegar até lá. E isso depois de você descobrir esses procedimentos. Mas finalmente aí está o texto que fala da história do batalhão, citando o sobre o golpe militar:
“Revolução de 1964, quando participou da derrubada do então Presidente da República João Goulart, apoiando a sociedade e as Forças Armadas, dando início ao regime militar com o Presidente Castelo Branco”.
É claro que é uma barbaridade um texto desses num site oficial do Brasil, mas a discussão acabou sendo trazida de uma forma politiqueira, partidária mesmo, o que acaba contribuindo menos para resolver a tacanhice da Secretária de Segurança paulista e mais para acirrar um tipo de discussão ideológica que no contexto é de pouco valor.
De pouco valor para a resolução da questão em vista, é claro. Para a política Maria do Rosário foi um achado que pode garantir sua reeleição para deputada federal no Rio Grande do Sul. É capaz até de estimular ambições maiores suas naquele estado, afinal ela até já quis ser prefeita de Porto Alegre.
Resumindo, na sua pequena base eleitoral este é um grande feito. Para a discussão de um assunto que realmente é importante não servirá para muita coisa. Ou melhor, vai acabar beneficiando os piores desta questão.
A ministra trouxe o assunto com aquele clima de Guerra Fria, no qual tanto a esquerda quanto a direita parecem tão confortáveis.
Segurança pública
tratada como se fosse
coisa de faroeste
A Polícia Militar é subordinada ao governador, então nada mais prático que procurar o próprio governador Geraldo Alckmin e é provável que a questão fosse resolvida sem criar um debate ideológico que pode servir só para mascarar os verdadeiros problemas nos métodos da Rota.
A última da polícia militar paulista é fazer emboscada contra assaltante. É uma técnica policial em desuso desde Dodge City, lá pelo final do século dezoito e início do dezenove, não é mesmo? É muito faroeste para o século XXI.
Eu penso que uma base produtiva para a discussão da violência policial é sua ineficiência e a deformação de qualquer sentido prático de uma polícia. Não existe nenhum exemplo de polícia violenta e eficiente. Aliás, o exemplo não aparece nem nas guerras.
Este foco para a discussão pode favorecer inclusive os direitos humanos. É muito clara a ineficácia dos barbarismos que hoje dão uma falsa impressão de segurança. Nossa polícia se move demais pela crueldade e de menos pela técnica: esta é a questão central.
Duvido que alguém consiga comprovar de forma técnica qualquer qualidade para a segurança pública em fazer emboscada junto a caixas eletrônicos de grandes bancos. Pode até não ter sido o caso, mas dá mais a impressão de um ajuste de contas. Aliás, seria melhor que fosse ajuste entre iguais, pois é bem duro viver em um país em que a polícia acha que pode fazer um bom serviço esperando os assaltantes de trens na próxima curva depois do desfiladeiro.
Mas a ministra veio com essa forma enviesada de puxar um assunto que nada mais é que criar um espaço de crítica ao governo paulista dos tucanos, como se a questão da segurança pública no Brasil fosse restrita a este ou outro partido.
Sociedade civil só
vê o problema quando o
tiro não é só em pobre
A leniência oficial com a Rota de São Paulo e todas as outras polícias de choque pelo país afora á a extrema tolerância com todo tipo de violência da polícia é um problemas social brasileiro. Até a sociedade civil tem sua parcela de responsabilidade.
Empresários, profissionais liberais, advogados, todos se calam. E isso quando não aplaudem a violência da polícia. A verdade é que a sociedade só toma tento da gravidade de conceder poder de intimidar e matar para tropas especiais quando a violência sai do âmbito dos despojados de direitos, os jovens pobres da periferia. Quando a tropa erra de alvo e pega um jovem de uma classe social mais alta, aí vem a grita. Mas dura pouco, porque logo a tropa volta sua mira para os pobres.
O PT da ministra Rosário tem fortes bancadas parlamentares em São Paulo, tanto na Assembléia quanto na Câmara municipal da capital. Então de que forma eles tem atacado o assunto?
O mesmo se pode dizer no plano federal. No âmbito do Ministério da Justiça, o assunto mais relevante para esse pessoal nos últimos tempos foi o caso Batistti. Ah, tem também a distribuição farta de dinheiro para anistiados.
Como eu já disse aqui, passaram muito tempo ocupados com a reformulação da Justiça da Itália e deixaram de lado a tragédia da segurança pública brasileira.
É claro que o texto da Rota que elogia o golpe contra um presidente eleito tem que sair de lá. Nem deveria estar em um site oficial. Se a tropa quiser fazer algo parecido, pode usar suas associações independentes, publicar anúncio em jornal, qualquer outra coisa que não usar o Estado para isso.
Democracia tem dessas coisas. É preciso conceder liberdade até para os que querem se permanecer no clima da Guerra Fria. O problema é ter ministros de Estado que também não saem deste clima.
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POR José Pires
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