quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Uma regra para entender os economistas

Para entender o que os economistas andam falando sigo uma regra muito simples: desconfio sempre quando eles vêm com uma conversa otimista e desconfio também quando a mensagem é pessimista.

No primeiro caso a mentira é sempre para cima e no segundo a mentira é para baixo. Diminua o primeiro e aumente o segundo, que é capaz de você chegar próximo do que pode ser a realidade.

Dá a impressão de que o economista nunca está interessado na substância que dá os números que estão sendo analisados. Suas projeções raramente observam esse dado simples. É claro que esse discurso insustentável contagiou a política e, por extensão, os dirigentes públicos.

Esta dificuldade em ver de forma simples as conseqüências de qualquer organização econômica pode ser sentida em várias propostas que contribuíram para tazer o país para essa desgraça econômica da qual dificilmente sairemos em pelo menos duas décadas, se depender dos resultados educacionais, industriais, da área de tecnologia, ou de qualquer outro tipo de ação prática relacionada à infra-estrutura.

Alguém se lembra da tal de “reengenharia”. Pois é, teve uma época no Brasil em que isso foi mais aclamado que o Chacrinha dado bacalhau para sua platéia. Ou, para usar um exemplo atual, o Silvio Santos ganhando um belo bacalhau do governo depois dele conseguir falir um banco neste país.

Quando os economistas vieram com aquela onda de otimismo da "reengenharia" (vamos manter as aspas nesta palavra especial), era muito triste, mas não por isso menos interessante, observar a satisfação das pessoas enquanto metódicamente eram destruídos recursos humanos que levaram muitos anos para serem criados.

Como eu sempre desconfiei de lições que não pregam o trabalho duro e o aprofundamento no estudo e na feitura das coisas e também como via à minha volta equipes sendo desmanteladas e profissionais da mais alta qualidade e experiência saindo de cena em várias atividades, senti logo que havia uma altíssima picaretagem em andamento.

Foi a época em que um "consultor" (cabe também aspasnesta outra palavra também muito especial) falando com um vocabulário de livro de auto-ajuda chegava numa firma e cortava do bom e do melhor de seus recursos humanos, debaixo do aplauso idiotizado de seus dirigentes, que muitas vezes eram os donos da empresa que estava sendo destruída, e muitas vezes parabenizados até pelos profissionais que caíam foram.

Foi uma época em que até uma das maiores desgraças para um trabalhador, que é a demissão, passou a ser vista como um benefício no mercado de trabalho. Com um adjetivo bacana, “demissão voluntária”, o processo era tentador. Você era demitido e podia construir seu próprio negócio e progredir muito, talvez até ficar rico. Quem podia resistir a uma proposta boa como essa?

Bem, uma das primeiras vezes em que ouvi de um empresário esta excelente receita, disse a ele que era provável que na sua empresa ele perdesse todos os bons profissionais — mais produtivos na empresa, mas que naturalmente aceitariam a demissão, pelo fato de serem pessoas mais destemidas — e ele ficasse com todos os profissionais acomodados e improdutivos.

O empresário me olhou de uma forma que pareceu entender a questão, mas logo seguiu com sue reengenharia. Desconfio até que ele suspeitou que eu estivesse me incluindo entre esses profissionais mais produtivos só para escapar da degola voluntária.

Naquela época, praticamente toda a imprensa passou a falar naquela linguagem de auto-ajuda. Um exemplo significativo do resultado desse ensandecimento coletivo foi a cobertura da revista Exame, especializada em economia. Durante um período de quase uma década esta revista deu várias capas sobre as maravilhas da "reengenharia", para depois fechar o assunto em uma matéria de capa memorável em que informava que só sobraram no mercado as empresas que não seguiram aquela receita.

Bem, salvaram-se exatamente os empresários que avaliaram para baixo o otimismo trazido pelos economistas com a tal de "reegenharia" e elevaram as precauções quanto aos riscos da excelente receita.

Mas o que os economistas andam dizendo agora que a marolinha do ex-presidente Lula ficou para trás na propaganda política e deu lugar à crise sistêmica para a qual nunca nos preparamos?

Hoje vi uma informação muito séria, vinda do banco JP Morgan. Para eles existe a probabilidade em 62% da repetição de uma crise com a mesma severidade do colapso do banco Lehman Brothers em 2008. O que a matéria que saiu na Folha não diz é que essa batida deve vir num mercado mundial já combalido inclusive psicologicamente, o que não ocorria em 2008.

Ou seja, para se preparar para o que pode vir por aí tem que ser aplicada a regra para mais nesta onda de pessimismo vinda dos economistas do banco JP Morgan, o que pode levar esses 62% bem pra perto do 100%.
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POR José Pires

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