terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pra haver debate tem que ouvir o outro

Antes de bater qualquer letrinha nesta tela de vídeo (que aceita tudo, né?), deixo claro que sou contra a construção da Usina de Belo Monte. Já escrevi muito sobre temas ecológicos aqui no blog, de forma que basta o leitor ler os textos para ver que me alinho sempre pela defesa do meio ambiente. Escrevo e atuo em ecologia há muito tempo, bem antes de surgir qualquer emoção incontida com árvores derrubadas em qualquer lugar desta cidade. É que assim que alguém traz um pensamento na tal da rede social, logo se juntam alguns comentaristas para atacar a pessoa ou tentar fazê-la mudar de idéia, uma besteira danada, pois, se a tela do computador aceita tudo, antes de chegar a ela, o tema passa pelo meu cérebro. E ele não aceita tudo.

Mas, ao tema: o vídeo abaixo foi feito por alunos da Engenharia Civil da Unicamp. É um bom material nesta discussão sobre a usina. Já é um sucesso na internet e veio evidentemente como resposta ao vídeo do movimento Gota D’Água, que trouxe vários artistas de televisão contrários à usina de Belo Monte. E é excelente por um aspecto importante que vai além da construção da usina: traz de fato o debate sobre a arriscada construção desta usina. Arriscada no meu entender, é claro. Os alunos da UNICAMP pensam o contrário e trazem seus argumentos. Já tem gente buscando desqualificá-los, alegando ignorância quando eles dizem que energia hidrelétrica é energia limpa. Bem, aí é ignorância do uso da linguagem.

Os alunos estão fazendo uma boa argumentação utilizando uma barbeiragem danada do vídeo dos artistas contrários a Belo Monte. Naquele vídeo eles dizem que este tipo de energia não é limpa. Tentaram criar uma brincadeira de texto, mas não foram eficientes ao passar para o vídeo. Tornar claro o argumento exigiria tempo demais para um clipe. Foi uma questão de linguagem também, mas acabaram abrindo um flanco para ataques certeiros dos que aceitam a usina. Este dos alunos da Unicamp usou bem esta falha e deu um chute certeiro. Azar. É pegar a bola no fundo da rede e seguir o jogo. Mas com cuidado. Este adversário não é ignorante. Eles jogam bem. E para haver debate o outro tem que ser ouvido.

O vídeo dos alunos da Unicamp tem uns defeitos de direção, o que torna menos eficiente a fala dos alunos. Mas essas coisas são assim mesmo. No outro eles melhoram. O que esta manifestação dos alunos da UNICAMP traz de muito bom é realmente criar um debate sobre o assunto. Quem é contra a usina terá de se esforçar um pouco mais.

O vídeo faz o que o governo do PT não fez, pois tanto Lula quanto Dilma impuseram a construção deste projeto absurdo neste país, além de forçarem outras coisas também, mas aí são outras arbitrariedades. Lula impôs o projeto e desrespeitou opiniões contrárias. Dilma segue a mesma linha. A meu ver, quem é petista deveria discutir o assunto no foro do partido. Vão lá cobrar de seus dirigentes, agitem politicamente a militância. Preferia até que todos os petistas fossem a favor da usina, pois o PT tem desmoralizado muitas causas boas neste país e podem desmoralizar também a ecologia. Não venham encher o meu picuá.

Mas, deixando de lado a hipocrisia de certos petistas, o bom deste vídeo é que parece o começo de um debate de fato sobre a questão. Temos enfim o outro lado, como se costuma dizer. E eles não são ignorantes, não. Vão dar um trabalho danado, pois podem conquistar uma boa parcela da população que é propensa a aceitar não só a usina, mas outros projetos arriscados para o meio ambiente.

Uma questão essencial hoje para o Brasil é fazer este debate. Os estudantes da Unicamp criaram um bom site (que pode ser acessado no próprio vídeo). Foi aberto há quatro dias e o vídeo já tem 78.686 exibições só por meio deste site. Certamente vai bombar no Youtube. O site também está aberto a comentários e já traz muitos argumentos contra a usina de Belo Monte, o que é muito bom. O caminho da sociedade civil tem que ser este: do debate aberto, franco e aprofundado. É o caminho para se construir um país.
.......................
POR José Pires

Nenhum comentário:

Postar um comentário