sábado, 31 de março de 2012

Fuçando no lixo

Os petistas estão mais felizes do que pinto no lixo com as gravações das conversas entre o senador Demóstenes Torres (DEM) e o bicheiro Cachoeira. Como estão sempre sempre maquinando para amoldar a realidade às suas teses, a felicidade deles é com a consagração da sua desculpa de sempre quando são pegos em suas maracutaias: os políiticos são todos iguais.

Para o senador do DEM o jogo acabou. Mesmo não tendo que disputar a reeleição para o Senado senão daqui a seis anos, não é provável que ele tenha mais peso na política nacional depois da revelação de seus papos ao telefone, em conversas em que até pedia dinheiro ao bicheiro.

É uma pena, pois ele era um dos poucos parlamentares que vinha fazendo uma oposição rigorosa às imoralidades deste governo. Porém, depois desta ele ficou sem moral para falar qualquer coisa. E quem ganha com sua desmoralização é Lula,a Dilma e a companheirada.

Daí a felicidade de pinto no lixo. Ou será melhor usar na expressão outro bicho, talvez o rato ou mesmo o porco? São dois bichos que também ficam muito satisfeitos enquanto estão fuçando na imundície.

O desmonte moral do senador goiano traz até umas indagações à nossa cuca, nós que sempre estivemos muito encabulados com a estranha passividade da oposição. Para ficarem tão quietos muitos não estarão sendo ameaçados nos bastidores? Afinal, nada deve escapar de quem tem o poder sobre a máquina do Estado, inclusive das áreas investigativas.

E agora entrou na história até o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ontem ele disse que as denúncias contra Demóstenes "são graves". É uma fala bem esquisita para alguém que até agora se manteve calado sobre as carradas de denúncias contra companheiros seus de partido e até mesmo de colegas de ministério, vários dos quais tiveram que pedir demissão para evitar que a própria presidente da República tivesse que mandá-los embora.

Calado, não. Cardozo até chegou a comentar denúncia de corrupção, mas para defender o colega de partido e de ministério. Em maio do ano passado, no auge das denúncias sobre o comprovado enriquecimento em curto tempo do então ministro da Casa-Civil, Antonio Palocci, ele foi rápido em defendê-lo. Neste caso, Cardozo não viu nada de grave. Segundo ele, nas denúncias contra Palocci havia “muita fumaça e pouca fagulha”. O final do caso, todos conhecem: Palocci saiu para não ser demitido.

Não estamos aqui para cobrar coerência de petista, pois não somos malucos. Sei muito bem que a indignação deles é bastante seletiva. E também já vi que coerência não é o forte do ministro Cardozo. Ele foi deputado federal na legislatura passada e um pouco antes do final de seu mandato dizia estar tão revoltado com a forma das eleições no Brasil que resolveu não disputar a reeleição para a Câmara. Em maio de 2010 chegou a divulgar uma espécie de carta-aberta onde, entre várias críticas ao peso do poder econômico e da corrupção na política, dizia o seguinte: “Há tempos não me sentia confortável com disputas onde o dinheiro cada vez mais decide o sucesso de uma campanha”.

Dali por diante devem ter acendido alguma grande luz que iluminou suas idéias. De imediato ele se incorporou à campanha presidencial do PT, tornando-se um dos chamados “Três Porquinhos”, o grupo que estava em todas com a candidata Dilma Roussef. O próprio Cardozo definiu desse jeito a famosa trinca: “"Ficamos pensando o que tem em comum entre nós além da barriga. Vimos que o prático é o Palocci, o Heitor é o Dutra, e o Cícero sou eu".

Faz tempo que nada me espanta vindo do PT, mas acabou sendo curioso ver o ex-deputado que se queixava do uso abusivo do dinheiro na política acabar na chefia da condução de uma campanha riquíssima, que usou o poder político e econômico até para compor um quadro eleitoral favorável à vitória do PT.

Não vale a pena perguntar se Cardozo mudou, mas a situação que ele criticava mudou bastante: para pior. E é claro que lá dos altos gabinetes do Planalto ele sabe muito bem que a maracutaia que corre solta hoje no Brasil não é na oposição.
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POR José Pires


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Imagem: Pinto, rato, ou mesmo porco, não importa a expressão: mas dá pra ver a felicidade deles.

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