sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cotas, para que te quero

Vou reivindicar cotas para mim também. Já explico. A justificativa das cotas para negros é a compensação pelos sofrimentos de seus antepassados, não é verdade? E só pode ser isso mesmo, afinal é difícil acreditar que alguém pense honestamente que um negro que tem condições de frequentar universidade está com falta de feijão em casa ou não teve base educacional para enfrentar de forma igualitária concorrentes brancos em um vestibular.

Mas se a regra agora é a das cotas, acontece que os meus antepassados vêm sofrendo neste país há muito mais tempo que os negros.

Sou um Silva, apesar de que já vou adiantando que da parte honesta da família e que não enriqueceu com a política, como os primos distantes que foram morar no Palácio do Planalto em 2002. Também tive mãe que nasceu analfabeta, tudo igualzinho. Só tem sse defeito da honestidade, mas não tem problema, vamos administrando o prejuízo desta eterna falta de caixa, inclusive do dois.

É provável que os Silva tenham baixado no Brasil degredados ou pelo menos no desespero de encontrar um meio de vida naqueles tempos de 1500 em diante, que já eram difíceis. Devem ter chegado no que viria a ser o Brasil logo que começaram a mandar gente para cá no começo da colonização. Séculos antes de algum negro ter botado os pés nesta terra que, de santa, hoje tem quase nada.

É óbvio que jamais pegamos alguma capitania, sesmaria, cargo comissionado, nada mesmo. Foi só labuta e mais labuta. De lá pra cá, se em algum lugar havia um negro na enxada e morando como agregado na terra do patrão, pode ter certeza de que ele tinha um Silva de vizinho.

Pois bem. É um sofrimento bem anterior ao de qualquer negro, além de que a penúria continua. E ainda tem o agravante de eu ser de oposição, que hoje no Brasil é igual ao que o John Lennon falava sobre a situação das mulheres no mundo: a oposição é o negro do Brasil. Não falta nem o chicote da difamação, da injúria e do politicamente correto em nosso lombo branco.

Espero que este sofrimento de séculos tenha valido a pena. Quero também o meu!
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POR José Pires

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