domingo, 27 de maio de 2012

Chantagem proteladora

A denúncia publicada pela revista Veja desta semana é um dos fatos mais graves da nossa história recente, afinal não é sempre que um ministro do Supremo Tribunal Federal acusa publicamente um ex-presidente de chantageá-lo para adiar um julgamento importante. A revista traz uma matéria de capa com Gilmar Mendes afirmando que Lula fez pressão para o adiamento do julgamento do mensalão para além das eleições municipais.

A militância vai ter dificuldade para desmerecer a reportagem. A fonte da revista é o próprio chantageado, o ministro Gilmar Mendes, que já foi presidente do STF. Ele diz que num encontro há um mês no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, Lula propôs o adiamento do julgamento do mensalão em troca de sua blindagem política na CPI do Cachoeira. Na conversa, Lula insinuou que o ministro do STF teria muito a perder na CPI sem a defesa da base aliada do governo do PT. E para dar exemplo do poderia comprometer Mendes, no encontro o ex-presidente fez alusão a uma viagem que o ministro do STF e o senador Demóstenes Torres teriam feito juntos para a Alemanha.

Nesta referência, Lula deu credibilidade a boatos de que a viagem dos dois teria sido paga pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. A boataria que procura envolver Gilmar Mendes com o bicheiro Cachoeira vem sendo propagada em sites e blogs usados para defender o governo e atacar a oposição. Muitos desses blogs têm farta propaganda paga do governo.

A Veja conta que na conversa no escritório de Nelson Jobim foi oferecida proteção por Lula. O ex-presidente disse que tinha o controle da CPI do Cachoeira e poderia evitar complicações para Gilmar Mendes, mas o ex-ministro disse a ele que fosse fundo na CPI. Sobre a viagem a Alemanha, Mendes confirmou o encontro em Berlim com o senador Demóstenes Torres, mas disse ao ex-presidente que pagou as despesas de seu bolso. “Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá”, disse ele a Lula.

É claro que todo mundo quer saber a opinião de Lula sobre a denúncia, mas ele sumiu do mesmo modo que faz toda vez que surge maracutaia envolvendo o seu nome. Antes de publicar a reportagem a revista já havia tentado entrevistá-lo para ouvir sua versão, mas ele se negou a falar sobre o assunto.

Já pelo lado do ministro Gilmar Mendes a reportagem da Veja recebeu confirmação no mesmo dia em que a revista saiu às bancas. Ontem perguntaram ao ministro do STF se o que estava na Veja era tudo verdade e sua resposta foi a seguinte: “Claro que é! Eu mesmo confirmei tudo à revista”.
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POR José Pires

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