quarta-feira, 16 de maio de 2012

Da verdade mesmo?

Sempre foi muito elogiado no Brasil o trabalho da comissão que produziu o Relatório Nunca Mais, com o resultado da investigação sobre desaparecidos políticos na Argentina e os crimes da ditadura militar. O relatório foi concluído em setembro de 1984 e é realmente muito bom, até porque a comissão era presidida por Ernesto Sábato (1911-2011), grande escritor e um homem que conseguia manter em conjunto com sua posição de esquerda o respeito pela democracia.

A investigação da comissão foi exemplar, mesmo sendo indiscutível que os problemas políticos e a violência na Argentina sempre foram bem mais graves e de uma complexidade impossível de comparar com o que houve no Brasil.

Mas cabe lembrar algo que nunca foi destacado no Brasil, que o relatório produzido na Argentina deixa claro logo no primeiro parágrafo de sua apresentação que o terror vivido na Argentina era produzido tanto pela extrema direita quanto pela extrema esquerda. Para ser ainda mais preciso no que estou falando, cabe também dizer que no Brasil a extrema esquerda era representada pelos grupos que promoveram a luta armada. E esta luta armada nunca teve como objetivo o estabelecimento de uma democracia por aqui.

Diz o Relatório Nunca Mais argentino em seu primeiro parágrafo: “Durante a década de 70 a Argentina foi convulsionada por um terror que vinha tanto da extrema esquerda como da extrema direita, fenômeno ocorrido em muitos outros países”.

Ainda neste primeiro parágrafo, o relatório produzido pela comissão presidida por Sábato lembra a luta entre o terror de esquerda e as forças policiais na Itália, também na década de 70, e que culminou com o sequestro de Aldo Moro. O relatório cita um diálogo entre o general Carlo Alberto Dalla Chiesa e um membro dos serviços de segurança, que propunha torturar um detido que parecia saber muito. Dalla Chiesa, que era o chefe dos “carabinieri” que combatiam o terrorismo, disse o seguinte: “A Itália pode permitir-se a perder Aldo Moro. Mas não, em troca, implantar a tortura”. Dalla Chiesa comandou a derrota do terrorismo na Itália, porém depois foi morto pela máfia.

O terrorista Cesare Battisti participou deste triste período na Itália, quando praticou vários crimes, inclusive assassinatos, sendo por isso condenado à prisão. Pois ele fugiu para o Brasil e aqui foi acolhido como herói pelo governo do PT e muitos dos que hoje aplaudem a instalação da Comissão da Verdade. Bem, o que se espera é que esta comissão também não aponte para heróis errados.
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POR José Pires


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Imagem: O escritor Ernesto Sábato entre o Relatório Nunca Mais para o então presidente argentino Raul Alfonsín.


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