Morte sempre atrapalha. De repente fico sabendo que morreu o Ivan Lessa e estou aqui, muito atarefado neste sábado. Como o pessoal costuma dizer nessa hora, o que eu vou dizer?
Texto é algo que nunca fica perfeito, mas entre os brasileiros o Ivan Lessa era um dos poucos que chegava lá. Seu texto sempre foi muito admirado, tanto é que um mito que se formou em torno da sua figura foi a cobrança para que ele escrevesse um romance, o que ele nunca fez.
Esperteza dele, talvez. O paranaense Dalton Trevisan era outro que também sofria essa cobrança e resolveu contemplar os credores. E se estrepou, porque o seu 'A Polaquinha" decepcionou a crítica e os fãs. Voltou correndo para os contos cada vez mais curtos.
Ivan Lessa permaneceu fazendo uma variedade de coisas na época de "O Pasquim" e há muitos anos vinha escrevendo crônicas na BBC. Eram textos sempre muito bons, que ele mesmo lia no programa de rádio. Com a internet seus textos passaram também a ser publicados no site da emissora inglesa.
Só o que ele fez em "O Pasquim" já basta para que seja lembrado na história do jornalismo brasileiro para todo o sempre. Mas é claro que por um grupo restrito de pessoas já que, como ele mesmo disse, "a cada 15 anos o brasileiro esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos".
Sempre foi um prazer ler o que ele escrevia. Era o mais engraçado da turma de O Pasquim e foi essencial no espírito daquele jornal. Eu pouco me importava com o assunto sobre o qual o Ivan Lessa escrevia. Me deliciava com a técnica perfeita, a capacidade de fazer humor trabalhando as ambiguidades da nossa língua (Epa! E este "epa" era coisa dele) e as confusões do comportamento do brasileiro. A sua genialidade estava na capacidade de fazer rir com o tema mais banal e mesmo sem tema algum, apenas explorando o absurdo ou fazendo humor com a própria linguagem.
Ainda na época da ditadura militar ele foi um dos primeiros a perceber que o Brasil tinha tudo para não dar certo e por isso botou o apelido de Bananão no país. E nisso ele foi de uma bondade sem tamanho: os outros países da América Latina eram todos repúblicas de bananas, mas nós éramos bem mais que isso.
Teve gente que não gostou do apelido, mas a verdade é que se o Brasil continuar seguindo nesta toada será melhor mudar de vez o nome oficial para Bananão.
.....................
POR José Pires
....................
Texto é algo que nunca fica perfeito, mas entre os brasileiros o Ivan Lessa era um dos poucos que chegava lá. Seu texto sempre foi muito admirado, tanto é que um mito que se formou em torno da sua figura foi a cobrança para que ele escrevesse um romance, o que ele nunca fez.
Esperteza dele, talvez. O paranaense Dalton Trevisan era outro que também sofria essa cobrança e resolveu contemplar os credores. E se estrepou, porque o seu 'A Polaquinha" decepcionou a crítica e os fãs. Voltou correndo para os contos cada vez mais curtos.
Ivan Lessa permaneceu fazendo uma variedade de coisas na época de "O Pasquim" e há muitos anos vinha escrevendo crônicas na BBC. Eram textos sempre muito bons, que ele mesmo lia no programa de rádio. Com a internet seus textos passaram também a ser publicados no site da emissora inglesa.
Sempre foi um prazer ler o que ele escrevia. Era o mais engraçado da turma de O Pasquim e foi essencial no espírito daquele jornal. Eu pouco me importava com o assunto sobre o qual o Ivan Lessa escrevia. Me deliciava com a técnica perfeita, a capacidade de fazer humor trabalhando as ambiguidades da nossa língua (Epa! E este "epa" era coisa dele) e as confusões do comportamento do brasileiro. A sua genialidade estava na capacidade de fazer rir com o tema mais banal e mesmo sem tema algum, apenas explorando o absurdo ou fazendo humor com a própria linguagem.
Ainda na época da ditadura militar ele foi um dos primeiros a perceber que o Brasil tinha tudo para não dar certo e por isso botou o apelido de Bananão no país. E nisso ele foi de uma bondade sem tamanho: os outros países da América Latina eram todos repúblicas de bananas, mas nós éramos bem mais que isso.
Teve gente que não gostou do apelido, mas a verdade é que se o Brasil continuar seguindo nesta toada será melhor mudar de vez o nome oficial para Bananão.
.....................
POR José Pires
....................
Imagem: Acima, trecho de uma Pasquim Novela, uma das engraçadas criações de Ivan Lessa em "O Pasquim". O debochado espírito deste jornal era em grande parte obra dele. Sentado à mesa apontando para Ivan Lessa está Millôr Fernandes, que morreu no final de março. Abaixo, recorte de um texto de humor publicado em O Pasquim com Ivan Lessa se fazendo de turista no Brasil. O jornalista morava em Londres desde 1978.
Nenhum comentário:
Postar um comentário