quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Bom de voto

Paulo Francis não iria gostar nem um pouco do resultado das eleições nos Estados Unidos e muito menos do que vou dizer agora: o melhor artigo de tantos que li até o momento sobre a vitória de Obama é do jornalista Caio Blinder. Infelizmente Francis não viveu para ver nem a primeira vitória de Obama. Com certeza estaria pensando o oposto do que Blinder publicou nesta manhã no site da revista Veja. Os dois não se bicavam no balcão inteligente do programa Manhattan Connection, quando Francis ainda estava vivo. Divergiam em tudo. No final, até já atuavam como personagens, batendo boca porque era isso que a platéia pedia.

Caio Blinder não esconde que foi eleitor de Obama nas duas eleições. Ele vive e trabalha nos Estados Unidos o que dá também ao seu texto um tom de testemunho. Este Obama que temos agora nada tem a ver com aquele do primeiro mandato, que entrou na Casa Branca cercado de uma expectativa muito acima do que qualquer um poderia realmente fazer na situação em que pegou os Estados Unidos.

No discurso de agradecimento de hoje Obama ainda fala de um lugar onde “você pode ter sucesso se você tentar”, mas ele sabe que na atual situação não se encaixa mais esta antiga retórica da terra onde todos os sonhos são possíveis.

Blinder, que é um “obamista” de carteirinha, diz em seu texto que gostaria de ver avanços no segundo governo, mas é francamente realista sobre o que pode vir pela frente: “temo que caminhemos para um período sem mudança e sem esperança”.

Mas com o Blinder tão desesperançado mesmo com a reeleição de seu preferido, então o Francis é que estava certo? Nada disso. A derrota de Mitt Romney foi um alívio para o Caio, como ele era chamado pelo amigo Francis mesmo quando era até destratado em frente às câmeras. E na minha opinião foi também um alívio para o mundo, como escrevi ontem num post que está logo abaixo.

Existe um tipo de liberal que pratica às avessas aquilo que critica nas esquerdas e no determinismo marxista. Faz das regras da economia liberal um dogma, como se o mercado livre tivesse capacidade de organizar até as forças da natureza. Mas dá para ver que está acontecendo o contrário. Liberal que não reformula suas idéias neste caso é burro ou trabalha apenas no interesse de grupos e grandes corporações. Este seria o caso do bom e velho Romney na presidência.

Especificamente sobre esta eleição o que dá para apreender de tantos outros artigos e reportagens que li nesses dias — além do excelente texto de Blinder — é que existe hoje uma América de uma diversificação étnica e de uma amplidão de necessidades que o Partido Republicano não entendeu ainda. Eles não sabem como extrair votos dessa nova realidade que se sobrepõe à sua antiga e conservadora base eleitoral. Este já não é o caso dos democratas e de Obama, um craque em eleição que alcançou a vitória mesmo numa situação econômica extremamente adversa para sua administração.
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POR José Pires

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Imagem: O cara em ação. No dia da eleição, o candidato telefona para agradecer e estimular voluntários de sua campanha (“Aqui é Barack Obama. Sabe, o presidente...”). A foto é de seu site de campanha.

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