sábado, 22 de dezembro de 2012

Militância da ignorância

Não se pode perder a atenção ao detalhe. Veja ao lado um corrimão do Kimbell Museu, belíssimo conjunto de prédios feitos pelo arquiteto Louis Kahn. O museu de arte fica no Texas e tem como base o acervo deixado pelo industrial Kay Kimbell, que durante anos juntou uma admirável coleção. Aqui o corrimão pode ser visto em dois planos. A peça foi prensada numa chapa inteiriça. O fino desenho moldou no metal a forma antiga de um corrimão.

A militância azucrinadora saiu tacando pedras em quem escreveu do jeito certo sobre a diferença entre as curvas modernas que sairam da prancheta do falecido arquiteto Oscar Niemeyer e a brutal ideologia que esteve sempre na sua cabeça, mas será que os companheiros da intimidação já ouviram falar de Louis Kahn? Duvido muito. E digo isso porque além das grosserias políticas e até pessoais, alguns se aventuraram no terreno dos elogios à obra arquitetônica do mestre stalinista. É improvável que a maioria desses malas governistas da internet saiba algo sobre os assuntos em que se metem com suas grosserias, agindo como paus-mandados no ataque a qualquer um que não esteja de acordo com as ordens que recebem de cima..

É o que dá passar a vida seguindo uma doutrina onde o conhecimento é o de menos. Quando o que importa é a conquista do poder a pessoa deixa de prestar atenção ao que o outro escreve ou fala. Sua mente sustenta-se apenas em slogans fáceis e frases colhidas apenas com o sentido de firmar uma posição política.

Na quinta-feira o Estadão publicou um bom texto do Demétrio Magnoli sobre Niemeyer. É devastador no aspecto político e adentra também na concepção da obra do arquiteto. Magnoli o situa como um “arquiteto da destruição”, numa linha que, sempre segundo ele, viria de Le Corbusier. Discordo em parte do texto. Gosto de Corbusier, que é um antecipador de Niemeyer e também de Kahn. Mas no artigo de Magnoli tudo é muito bem fundamentado, como é de costume no que ele faz.

O que não tem fundamento algum é a idolatria que apareceu agora com a morte de Niemeyer. É claro que o artigo de Magnoli vem sendo alvo do mesmo tipo de ataque que foi recebido por quem fez considerações críticas logo que Niemeyer morreu. E em caso algum os fãs póst-mortem do arquiteto trazem qualquer argumentação que tenha base ao menos na sensatez. Não trazem informação alguma, conhecimento menos ainda. É só grosseria política.

Sinceramente, eu não sabia que era uma questão programática a blindagem total de Niemeyer. Já era do nosso conhecimento que o ex-presidente Lula eles querem inimputável, mesmo que o Supremo Apedeuta se comporte como um coronel que até nomeia amante para cargo público. Foi uma grande novidade a entrada de Niemeyer no rol de ídolos que devem ser vistos como totens ideológicos. Só é permitido prostrar-se à sua frente e babar de admiração?

Mas felizmente tem muita gente que não segue ordens de cima e por isso ainda alcançamos alguma qualidade técnica no debate. É a atenção ao detalhe e a busca da informação e do conhecimento, essenciais para que haja discussão inteligente e não bate-boca. Até num velho stalinista como o arquiteto Niemeyer é preciso prestar atenção no peso da sua interferência enquanto esteve vivo. Mas isso tem sido feito apenas pelos que o criticam. Neste assunto repete-se o que ocorre sempre nas polêmicas em que aparecem os bandos de vozes comandadas para a difamação e o ataque político e pessoal. Mesmo quem gosta muito de Niemeyer só vai encontrar boa informação sobre o arquiteto no texto de quem faz com franqueza a crítica à sua detestável admiração por Stálin e o totalitarismo.

É o que vem acontecendo em muita coisa desde a ascenção do PT ao poder federal e sua contaminação negativa na nossa cultura. No futuro, quando alguém precisar de conteúdo de qualidade sobre o que aconteceu nesta época em que vivemos, só vai encontrá-lo nos textos de quem hoje está no lado oposto ao deste governo e seus lamentáveis seguidores.
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POR José Pires

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