quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Precisa-se de gerente

De alto a baixo o Brasil é um país travado na questão administrativa. O impávido colosso se imobiliza e não é só por falta de dinheiro. Os números do final da metade deste terceiro mandato do PT mostram essa dificuldade danada na realização do básico. E isso quando temos na presidência da República alguém que entrou lá no embalo de uma propaganda política que a vendeu ao eleitor como pessoa de alta capacidade gerencial.

São vários os exemplos desta incapacidade administrativa. Estão na segurança, na habitação, na saúde, enfim em tudo quando é necessidade direta da população. Mas fiquemos em apenas um, aquele que foi também uma forte peça de propaganda eleitoral repetida muito antes até da campanha eleitoral começar: a transposição do Rio São Francisco. Números do próprio governo mostram que até final do mês passado só haviam conseguido gastar apenas 18% do orçamento de 2012 à disposição para aquelas obras no Nordeste. E a única coisa que fizeram foi pagar restos dos anos anteriores.

A questão não é apenas a disponibilidade de caixa. Nossos dirigentes públicos não têm capacidade para transformar o orçamento em bens e serviços. Este problema é generalizado e não atinge apenas o governo federal. Municípios e estados sofrem desse mesmo mal. E claro que parte essencial desse drama é também de responsabilidade da iniciativa privada, que no geral atua mal e porcamente na área pública. E a dificuldade também não é restrita à incompetência administrativa do PT, que nisso já vem fazendo história não é de hoje.

Em São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea da USP era pra ser instalado no prédio do antigo Detran, que fica ao lado do Parque do Ibirapuera. A notícia é da Folha de S. Paulo de hoje. A inauguração até já foi feita há um ano, mas até agora só o térreo está aberto ao público, com a exposição de umas poucas esculturas.

O museu tem uma coleção que chega perto de 10 mil obras, mas nada pode ser exposto porque o prédio não tem sistema de segurança e vigilância interna. Tudo está parado em razão das licitações nesta área não darem certo. Já foram feitas quatro tentativas, a última delas está sendo questionada na Justiça. O governo estadual não consegue resolver este problema, mas a USP também tem feito pouca coisa para facilitar o andamento administrativo para ocupar o prédio. A universidade nem começou as licitações que são de sua responsabilidade, como é o caso do restaurante e do café que devem ser instalados no museu..

Ora, os tucanos já estão no poder em São Paulo há pelo menos vinte anos e a USP logo mais irá fazer 80 anos. Mas os dois mastodontes empacam porque estão metidos no atoleiro que no final é de todos nós: a ineficiência na administração do bem comum. Como eu disse no início, isso acontece de alto a baixo em todo o Brasil. Se podemos falar hoje em dia de uma unidade brasileira, infelizmente vamos encontrá-la nesta incompetência que junta todos os partidos e instituições nacionais. E todo mundo faz de conta que não é bem assim. Mas este é o grande nó que trava o Brasil. Enquanto esta deficiência não for encarada de frente nem adianta ter orçamento bom. Mesmo tendo dinheiro, um país só pode ir pra frente se tiver também uma classe dirigente capaz de gastá-lo com eficiência.
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POR José Pires

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