sábado, 26 de janeiro de 2013

Saudades do Brasil do Tom

Nelson Pereira dos Santos e Tom Jobim juntos é um prazer estético e um encontro humano que toca meu coração. O cineasta é um dos meus preferidos. E o Tom Jobim para mim é a completude do artista, porque não é fácil juntar o erudito com o popular, como ele fez com aquela tremenda habilidade musical que torna tudo muito límpido, com fluidez de água e brilho de sol.

Existe um documentário feito pelo Nelson Pereira sobre o Tom que é muito bom, especialmente porque traz para o primeiro plano sua irmã, Helena Jobim, que foi uma pessoa muito importante na sua vida e por quem ele tinha muito carinho. O filme é “A música segundo Tom Jobim”. Helena escreveu um ótimo livro sobre o irmão. Ela escreve sobre suas lembranças com uma rara combinação entre a intimidade do amor fraterno e a necessária ligação com a trajetória artística desse grande, imenso compositor brasileiro.

O Tom é uma das figuras mais importantes na minha vida. Logo cedo, ali pelos 17 anos, me encantei com sua obra que falava de mato, passarinho, lama de beira de estrada. Todas essas coisas tratadas com uma alta qualidade artística deram respaldo à minha ligação com a natureza, que foi a base da minha infância. É claro que essa relação artística com minhas recordações de menino fortaleceu o entendimento em mim de como aprender e trabalhar com isso. Muitas pessoas que nem chegamos a conhecer pessoalmente nos dão tanta saudade como se fossem gente da família. E caso não tivessem aparecido em nossa vida é provável até que fossemos hoje muito diferente. O Tom é uma dessas figuras para mim. Vi o compositor só uma vez só no Rio, ele bebendo algo no antigo restaurante Plataforma e eu em outra mesa. Mas só o observei ligeiramente de longe. Eu não precisava conversar com ele porque já havia entendido tudo ouvindo suas músicas.

O livro de Helena Jobim eu comprei logo que saiu. Perdi um, que deve estar em boas mãos, mas logo comprei outro que é de releitura constante, tendo o cuidado de pular certas partes quando leio em viagem no ônibus, como é meu costume, senão os outros passageiros podem pensar que sou um doido derramando lágrimas em público. A longa descrição da sua doença e da morte repentina é muito triste. Morreu desesperado em 1994, com 67 anos, porque ainda não queria ir. E podia mesmo ter ficado mais um pouco, o que faria um bem danado para todos nós. Seu aniversário seria ontem, quando estaria com 85 anos.

Costuma sempre me vir à cabeça como seria bom saber do lançamento de um novo álbum seu ou ler uma entrevista nova, ele que era um ótimo conversador, de pensamento original e muito bem humorado, com suas divagações sobre urubu, planta, passarinho e tantas outras coisas boas de ouvir.

Ele e Nelson Pereira dos Santos, que ainda está aí com apenas um ano a menos do que o Tom teria hoje, são dois artistas essenciais para nós, brasileiros. Podíamos ter aproveitado muito mais do que eles fizeram, é claro, mas o que soubemos usar bem tem nos dado muita força.

Numa das cenas do documentário de que falei, sua irmã Helena lembra dele, tendo como cenário a Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Nelson Pereira explicou que seria impossível encontrar hoje no Rio de Janeiro um cenário de praia que lembrasse os tempos de sua juventude. Isso acaba reforçando o sentimento de que precisamos ter mais forte em nós o legado artístico e humano do Tom, até para talvez recuperarmos um dia aquele Brasil de suas canções.
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POR José Pires

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