sábado, 16 de março de 2013

A difamação que vem da Argentina

Deixa ver se eu entendi: a esquerda quer derrubar o papa, é isso? É o que dá a entender a corrente de difamação que desenvolveram contra o papa Francisco, a partir de acusações que se baseiam na sua atividade como bispo, na Argentina. As fontes carecem e muito de credibilidade. Existe uma acusação muito pesada, de que dois jesuítas teriam sido delatados às forças da repressão na época da ditadura militar. Isto veio do jornalista Horácio Verbitsky, fundador do Página 12, jornal que atua na defesa do governo de Cristina Kirchner. Verbitsky é tido na Argentina como influente mentor político do "kirchnerismo". Sua relação pra lá de estreita com os Kirchner vem desde o governo anterior de Néstor Kirchner, o falecido marido da atual presidente, que a fez como sucessora.

Verbitsky tem uma história política com vínculos com o autoritarismo. Fez parte do extremismo que tivemos na América do Sul entre as décadas de 60 e 80, quando grupos políticos violentos tentaram substituir ditaduras de direita por ditaduras de esquerda. E existem suspeitas muito sérias sobre este seu passado. Ele foi da organização política Montoneros, grupo armado dos mais agressivos da América Latina, que praticava até terrorismo. O jornalista que acusa o papa Francisco fazia parte da área de inteligência dos Montoneros, que tinha entre outras funções a de apontar bons alvos físicos para sequestros e chantagens para arrancar dinheiro para a organização. Um dos sequestros mais rentáveis deles foi o duas pessoas da família que controla a Bunge e Born. O ex-montonero é acusado de ter ajudado a desviar para Cuba US$ 60 milhões vindos deste sequestro. Ele nega e diz que é tudo invenção de adversários para destruí-lo.

A acusação contra o papa Francisco está em "El silencio", livro escrito por Verbitsky onde ele expõe sua visão sobre o papel da igreja durante o regime militar na Argentina. Para ele a igreja católica colaborou com a sucessão de ditadores, de 1976 até 1983. Foi um período violentíssimo. Quem reclama com mau humor dos que falam que em "ditabranda" no Brasil está fechando os olhos ao que ocorreu na Argentina. Calcula-se em cerca de 30 mil o número de mortos e o de desaparecidos é de 10 mil. Colocar a igreja católica entre os colaboradores de um regime de terror desses é uma acusação da maior gravidade. Na Argentina não tem coisa pior. E o do Página 12 sabe disso. Ele me parece uma dessas pessoas que se nega a rever seus erros do passado. Está preso aos rancores do passado. É costume dessa gente fazer a difamação histórica de qualquer um que não esteve com eles nas aventuras do passado. No Brasil também temos este tipo de problema, até na situação muito cômica de gente que defende erros graves do passado sem sequer ter participado deles. O ex-montonero argentino mantém-se aferrado a uma vendeta particular com igreja. Ele queria que, quando foi bispo na Argentina, o papa Francisco tivesse prestado apoio incondicional às suas ações criminosas.

Mesmo atuando hoje junto a um governo que já está no quarto mandato consecutivo, Verbitsky parece não compreender que a ampliação dos horizontes políticos que houve no mundo exige análise e argumentação muito diferente daquela feita na obscuridade da militância clandestina. Daí a minha questão inicial, perguntando se a esquerda quer derrubar o papa. E quando embarca nesta rede da difamação que saiu da Argentina, a esquerda brasilera se situa de forma ainda mais tola. Essa azucrinadora militância puxou para cá o antagonismo violento da esquerda argentina, que talvez seja a mais maluca do continente. Com isso, assumem um confronto desnecessário com todos os católicos.

Será que é preciso dizer pra esta gente que na relação com uma instituição do peso moral da igreja católica é preciso agir com equilíbrio e razão? Especialmente na hora de expor supostas faltas graves desta intituição não é nem um pouco inteligente agir de forma difamatória, com argumentos sem nenhuma base de sustentação. Será que até algo simples assim eles precisam ouvir? É claro que precisam. E se tiver alguém temendo que uma dica dessas possa fortalecê-los, não há porque se estressar com uma preocupação dessas. Esse pessoal não se emenda de jeito nenhum.
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POR José Pires

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Imagem: Juntos numa ocasião pública, Verbitsky e Cristina Kirchner revelam de forma muito expressiva a sintonia entre o jornalista e a presidente; à frente, capa de "El silencio".

Um comentário:

  1. Jota:

    Veja o filme " O Dia em que eu não nasci", de uma alemã que descobre ser filha de desaparecidos durante a ditadura. Creul.
    Mas, enfim, sou grouxomarxista.

    Abraços, Solda

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