quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mal na foto

Por conta das maracutaias em que se mete, o ex-presidente Lula acumula um desgaste imenso em sua imagem. Tem muita coisa: a mudança da lei de telecomunicações feita por ele para beneficiar uma transação entre grandes empresas telefônicas, numa triangulação que acabou beneficiando seu filho em um negócio de milhões; aconteceu o julgamento do mensalão, com a condenação de seus amigos que acertavam os subornos a parlamentares na sala ao lado da sua no Palácio do Planalto; a lista de malfeitos (como eles dizem para amenizar) é bem grande; é uma longa esteira de corrupção, que veio até ao governo da sucessora que ele fez com um dedaço; por causa de corrupção, ela teve que demitir uma porção de ministros indicados diretamente pelo ex-presidente; o golpe mais recente no governo Dilma foi o da amiga íntima Rosemary Noronha, nomeada a mando dele para o escritório da Presidência da República, onde ela e um bando com cargos nomeados negociavam atestados falsos; foi neste caso que ficou muito claro publicamente que Lula envolve seu poder político até nas "amizades íntimas"; em Brasília já se comentava há muitos anos que os dois eram amantes.

O acúmulo de lama respingou bem alto na semana que passou, com o pedido feito à Polícia Federal pela Procuradoria da República do Distrito Federal para a apuração do envolvimento de Lula no esquema do mensalão, que fez cair toda a cúpula do PT, envolvida em suborno de parlamentares

Tanto desgaste exige que marqueteiros se virem para ao menos amenizar a sujeira grossa. Daí o monte de encontros de Lula com personalidades variadas, especialmente do mundo artístico. Ele teve reunião recente com Bono, do U2, um cantor que felizmente nunca foi do meu gosto musical. Bono é um tipo de artista que fatura bastante em auto-promoção fazendo o papel de salvador dos pobres. Mesmo se não houvesse má fé de sua parte, de qualquer forma o resultado não é nada digno.

Já nesta semana o material de limpeza de imagem para se plantar na mídia foi produzido em exposição do fotógrafo Sebastião Salgado, uma retrospectiva de sua obra em Londres. Lula esteve lá e claro que o foco dos jornalistas teve que ser o recente pedido para que a polícia dê uma guaribada no que ele andou fazendo na época do mensalão. Ele se negou a responder sobre o mensalão. E ainda bem que nada falou sobre fotografia, um dos inumeráveis assuntos de que não entende nada.

Lula foi à abertura da exposição à convite do próprio fotógrafo. Foi esta a versão oficial para sua a presença, que acho lamentável. Sempre gostei das fotos de Sebastião Salgado. Vejo nele uma alta qualidade técnica e uma admirável disciplina profissional, algo sempre essencial em qualquer arte e de muito peso na fotografia. A presença do ex-presidente na exposição não é lamentável por ser o Lula. Podia ser o Fernando Henrique Cardoso e ainda assim haveria um equívoco de Salgado. Mas é claro que a forma que Lula foi encaixado no evento torna a coisa bem pior. É evidente a intenção de destacar uma ligação política entre o político e o artista, num período de sério desgaste de Lula. E na minha visão é necessário uma separação nítida entre o compromisso político e a arte.

Mas não é por isso que vou fazer como a militância azucrinadora e começar a falar mal das fotografias de Salgado. Continuam boas, mas na carreira do fotógrafo permanecerá esta nódoa. Ele ficou parecido com marqueteiro. Em qualquer obra isso deixa sempre uma mancha negativa.
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POR José Pires

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Imagem: Lula e Sebastião Salgado posam para o fotógrafo oficial do ex-presidente, em imagem distribuída pelo Instituto Lula.

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