segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O ator de sempre

E eis que o ex-presidente Lula aparece nas manchetes dizendo que "em 2014 atuará como candidato". E Lula tem feito outra coisa na vida nos últimos 30 anos do que atuar como candidato? Por mais de dez anos ele teve até salário mensal do PT para fazer isso. É o primeiro caso brasileiro e talvez o único também nas democracias ocidentais de um político com salário pago pelo partido para ser seu eterno candidato, condição que ocupa até hoje. Ele só não precisa mais do salário, já que atualmente é um dos homens mais ricos do Brasil, apesar da fachada de propaganda muito trabalhada da simplicidade pessoal.

Lula não desce do palanque e faz ou fala qualquer coisa para para se manter numa visibilidade que até constrange a atual presidente e impede qualquer ampliação do quadro de lideranças de seu partido. A situação política do PT hoje em dia é grotesca: para tudo precisam chamar o Lula. O que este partido vai fazer se um dia desses seu candidato eterno morre? Parece que todos se esquecem que Lula já é um homem de idade. Ele completa 68 anos agora em outubro. E independente disso, toda instituição tem que ter em andamento um programa que vá além da sua liderança de momento. O destino do PT é muito parecido com a situação política atual deixada pelo falecido Hugo Chávez, na Venezuela, onde seus partidários tem dele como herança apenas a memória da sua figura. Não ficou projeto algum.

Portanto, Lula não está anunciando nenhuma novidade para 2014. Vai agir como sempre, comportando-se como um candidato que atropela qualquer regra e atua sem respeito algum pela decência. E a sua megalomania anda tão destrambelhada que ele está deformando até o sentido da famosa música do Raul Seixas. A "metamorfose ambulante" cantada pelo roqueiro tinha o significado de independência e desafio às regras impositivas da sociedade. Na voz do Lula, "metamorfose ambulante" soa como sinônimo de oportunismo e manipulação.
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Por José Pires

domingo, 29 de setembro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Por fora do mensalão


Para quem julga que existe hoje em dia uma consciência maior do se passa no mundo da política, uma pesquisa divulgada ontem pela Folha de S. Paulo pode ser uma decepção: 29% dos paulistanos não sabem o que é o mensalão. A pesquisa é do Datafolha e foi feita apenas na cidade de São Paulo, onde o nível de informação é para ser maior. A situação é ainda mais triste pelo fato do Datafolha ter usado só a expressão "mensalão", sem exigir conhecimento maior sobre o tema.

É provável que uma parcela expressiva dos que sabem do mensalão não tenha a compreensão exata da dimensão do esquema de suborno e sua importância no projeto de perenização do PT no poder. Muita gente pensa que foi só um caixa 2, até como resultado da propagação desta falsa versão pela máquina política de comunicação e propaganda governista para amenizar o crime. E na minha opinião este desconhecimento tem origem em parte na forma que atualmente é feito o noticiário político, na maioria das vezes sem contextualização da informação e sem dar referência constante sobre o tema que está sendo tratado. Vivemos numa época de fragmentação extrema da informação.

As ferramentas da internet permitem o oferecimento de links para situar o leitor e possibilidade de sistematização do que é publicado, mas na internet brasileira infelizmente criou-se o hábito de escrever sobre qualquer coisa como se o leitor estivesse sempre acompanhando de perto o assunto. Eu vivo dizendo que o profissional de comunicação tem a obrigação de buscar aprofundar a informação e o conhecimento e sempre procurar dar referência sólida sobre o que está falando. Comunicação sem qualidade acaba favorecendo quem tem recursos financeiros e poder político para massificar sua própria propaganda. E a quadrilha do mensalão sempre soube usar isso.
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Por José Pires

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Além da imaginação

Com o ditador Bashar al-Assad em superioridade militar é estranho que suas forças tenham de fato atacado civis com armas químicas. O ataque parece improvável, mas não é impossível. O clima de ódio que impera internamente na Síria tem mais a ver com sentimentos tribais do que com uma lógica de Estado que até poderia evitar atos como este ataque que serve de justificativa para a intervenção dos americanos.

Bashar al-Assad acusa os rebeldes de terem feito este ataque contra civis para incriminar o governo. Não é difícil que isso ocorra. É uma atitude que foge ao padrão de uma guerra convencional, mas o tipo de conflito que ocorre na Síria nada tem de convencional. Para compreender o que ocorre em toda aquela região é preciso esquecer os modelos comuns de combate.

Existe um livro editado no Brasil que traz boas informações sobre o quanto são inusitados os métodos em uso no Oriente Médio. O livro é “De Beirute a Jerusalém”, do jornalista americano Thomas L. Friedman,  que virou um especialista no assunto depois de passar quase dez anos trabalhando naquela região. Em 1982 ele era chefe do escritório do The New York Times em Beirute. É o ano da invasão do Líbano por Israel e da expulsão da OLP do país. E foi em 1983 que a embaixada americana no Líbano foi atingida por carros-bomba suicidas, com dezenas de americanos mortos. O atentado é um ponto-chave na escalada mundial do terrorismo islâmico.

Neste livro, Friedman faz uma análise do comportamento político não só dos ditadores da região, mas também dos oposicionistas, muitos deles armados e ferozes. A esquerda brasileira costuma usar seu raciocínio maniqueísta também quando olha para o Oriente Médio. Talvez imaginem que lá é travada uma luta entre o bem e o mal. Não é bem assim. Por sinal, o livro de Friedman traz um retrato aprofundado da OLP e de seu líder, o falecido Arafat, que foi ídolo de sempre da nossa esquerda. Pois não iriam gostar do que ele descobriu. Isso se lessem o livro, é claro. Mas essa gente não lê nada.

Uma história contada por Friedman da época em que Israel ocupou o Líbano pode dar uma ideia de como por ali o uso apenas da lógica militar pode fazer qualquer um se danar feio. O jornalista americano diz que naquele lugar é preciso um outro tipo de imaginação. Mas vamos ao caso. O general israelense Amonn Shahak comandava uma divisão militar durante a ocupação de Beirute pelo exército israelense, quando um grupo de anciãos drusos muito exaltados o levou até três caixotes de laranja. Cada um continha cabeças humanas, troncos, mãos e pernas de drusos. Os velhos acusavam os falangistas cristãos de terem feito aquilo. Drusos e falangistas – todos libaneses – estavam em luta, num daqueles conflitos que parecem vir de tempos bíblicos.

O general Shahak então tomou um jipe e foi até o quartel-general dos falangistas tomar satisfações. O comandante falangista disse que de fato houvera um combate entre seus homens e os drusos. Mas os drusos é que recolheram seus mortos depois da luta, os mutilaram e levaram os pedaços de corpos para instigar seus próprios combatentes. E depois foram até o quartel israelense com a história. Era um truque já conhecido. O general israelense obviamente era um homem bastante experiente em combates e mesmo assim por pouco não se metera numa situação muito complicada. Ele disse disse ao jornalista que ficara pasmo com aquilo. E admitiu que deu-se conta que estava no meio de um jogo que não compreendia.
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Por José Pires


Imagem - A capa da revista The Economist retrata Bashar al-Assad do jeito certo: é um criminoso. Mas nas atuais condições é difícil saber se a Siria ficará melhor sem ele.

sábado, 7 de setembro de 2013

O grito que deu cana

Há 43 anos uma piada dessas dava cana braba. Foi esta charge feita pelo cartunista Jaguar que serviu de pretexto para prisão em novembro de 1970 de toda a redação do jornal "O Pasquim". O motivo da prisão chega a ser também engraçado porque a ditadura militar tratou como símbolo nacional o conhecido quadro de Pedro Américo – muito ruim e uma cópia deslavada de uma pintura do francês Ernest Meissounier, onde ele retrata uma vitória importante de Napoleão. A frase brincalhona que Jaguar colocou na boca de D. Pedro I era de uma música cantada por Jorge Ben (que na época não era Benjor) que tocava muito no rádio.

Na época era assim. Tempos de "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", não se podia brincar nem com o verde e amarelo da nossa bandeira. E nem com uma pintura ruim que era reverenciada pelos militares como símbolo da pátria.

Os milicos não acharam graça. Numa invasão da redação de madrugada pela polícia foram presos José Grossi, Fortuna, Ziraldo, Paulo Garcez e Luiz Carlos Maciel. Estavam terminando a edição daquela semana do jornal. Tarso de Castro fugiu pelos fundos quando a polícia chegou. A polícia foi na casa do Millôr Fernandes mas não o encontrou. Paulo Francis foi preso em casa. E Jaguar, Sérgio Cabral e Flávio Rangel se entregaram depois. Atendiam a uma proposta da polícia, que disse que assim soltaria os outros. Era um truque. Ficou todo mundo preso.

A prisão foi tratada depois de forma escrachada pelo jornal. Não perdiam a piada de jeito nenhum. Apelidaram o episódio de "A gripe da turma do Pasquim". Segundo Jaguar, nos dois meses que ficaram presos nunca foram interrogados por ninguém. Mas a verdade é que correram um risco tremendo. O clima político era pesado, com presos sofrendo torturas e também desaparecendo para sempre. Pelo menos um perigo sério chegou muito perto deles. Um comando da extrema-direita tentou pegá-los na prisão, mas um militar impediu o sequestro.

Passadas quatro décadas a piada do Jaguar não causa mais reação nos militares, que não estão nem aí para uma gozação dessas. A situação se inverteu no Brasil. Hoje em dia quem bronqueia contra gozações ao poder é a esquerda governista, que está sempre atiçando suas patrulhas sobre qualquer um que tente fazer algo fora do senso comum e sem reverência babaca por uma pátria que é roubada de cima a baixo.
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Por José Pires

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Maracutaia entre companheiros

Tem que ter preparo físico para acompanhar as maracutaias do PT. Acontecem o tempo todo. Agora é uma denúncia de compra de votos na eleição para presidente do partido. E não vem da imprensa e nem da oposição. A denúncia é do deputado Henrique Fontana (PT-RS), que disse o seguinte: “Desconfio de pagamento coletivo. Uma pessoa pagou para um grupo e isso é voto de cabresto”.

Fontana está entre os seis petistas que disputam o cargo, entre eles Rui Falcão (PT-SP), que tenta a reeleição. A eleição será em 10 de novembro e para votar os filiados tinham tinham até o dia 31 de agosto para quitar seus débitos com o partido. A acusação de Pimenta tem a ver com isso. “184.893 filiados estavam aptos a votar em 28/8. Ontem, eram 780 mil os filiados que estavam em dia com a tesouraria”, ele disse.

O PT é cheio de surpresas como esta da quitação instantânea de pagamento de centenas de milhares de filiados numa véspera de eleição partidária. Parece que neste partido dinheiro não é problema. Sempre tem algum pagamento surpreendente. Lembram da quitação da dívida do ex-presidente Lula em 2004 com o partido? Imaginem a surpresa do Lula quando ele soube que sua enorme dívida de R$ 29,4 mil havia sido paga pelo Paulo Okamoto, companheiro de tamanha bondade que nem se preocupou em avisá-lo? Haja coração. Num partido desses não dá mesmo para ter medo de ser feliz.
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Por José Pires

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Na escuta


Por que é que o governo americano ficaria espionando as conversações da presidente Dilma Rousseff? Nem vou ir no ponto político de que nem é dela o comando de verdade sobre as ações do governo do PT. A presidente não chega a ser laranja neste esquema de poder, mas se for para xeretar pessoas neste governo ela não está na frente da lista. E a Dilma tem problema de sinapse até quando está com um marqueteiro na sua cola. Um espião estrangeiro deve penar para entender uma conversa com ela raciocinando de improviso.

E nem é possível imaginar o presidente Barack Obama sendo interrompido em uma reunião na Casa Branca de discussão sobre a Síria, o Irã e a União Soviética para que ele tome conhecimento com urgência de uma conversa importante entre a Dilma e a Ideli Salvatti.

Porém, se os americanos estiverem mesmo espionando as conversas da Dilma isso só pode ter uma explicação: até o Obama precisa dar umas risadas de vez em quando.
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Por José Pires