sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Rede fora da eleição


Se fosse num país sério, o fato da Rede Sustentabilidade não conseguir o registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia até ser visto unicamente como um tremendo amadorismo do grupo da ex-ministra Marina Silva. Mas estamos no Brasil, um lugar onde os cenários eleitorais passaram a ser construídos da forma mais adequada para a perenização de um partido no poder. Todos sabem que ao governo do PT não interessa nem um pouco a candidatura de Marina Silva, muito menos embalada por um partido com ares de novidade. Seria um fato político ruim para a candidatura de Dilma Rousseff, sendo provável até que isso mexesse na futura composição do Congresso e até nas eleições para governador. Já bastante desgastado, o PT poderia sofrer um forte baque com um sucesso da Rede, porque é óbvio que é de seu eleitorado que sairiam muitos votos. Até agora falou-se bastante só na candidatura presidencial de Marina e foi foi deixada de lado esta possibilidade da Rede ter uma expressiva bancada de deputados.

O rigor do TSE com a Rede não segue o figurino do tratamento a tantos partidecos que vêm sendo formados, nesta surreal realidade política com mais de três dezenas de partidos. Nesses dias mesmo saíram mais dois partidecos, comandados por políticos sem nenhuma expressão nacional. Nossa Justiça foi também muito delicada com um partido mais graúdo, o PSD do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

A generosidade com Kassab foi tamanha que juntou até o STF ao TSE, quando ambos decidiram que mesmo sem ter participado de nenhuma eleição (mas já com uma boa bancada, amealhada sabe-se lá como) seu partido teria o direito proporcional de tempo de propaganda e dinheiro do Fundo Partidário. Mas Kassab é um político do sistema, qualquer sistema, desde que ele possa dar sua contribuição em mudanças que deixem tudo do jeito que está.

O problema do partido de Marina com o TSE é não ter completado o número de assinaturas exigido para o registro. 95 mil firmas foram rejeitadas por cartórios. E vale a pena dar os nomes de cidades onde cartórios mais encrencaram para firmar as assinaturas da Rede. A média de rejeições em todo o Brasil é de 24%. Pois no ABC paulista, onde o PT tem um imenso poder, os índices chegaram a 78%. Isso mesmo: quase tudo recusado pelos cartórios. Foi 78% recusado em São Bernardo do Campo, 72% em Mauás e 69% em Santo André.

É claro que isso nada prova e talvez nunca ocorra nenhuma investigação para verificar o que aconteceu de verdade nessas cidades e em outras onde cartórios contribuíram para adiar o sonho de Marina Silva. Mas fica no ar a suspeita de que o domínio político petista já está chegando a tanto que eles decidem até quais partidos podem ser formados no país.
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Por José Pires

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