quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Resistência tardia

O grande cronista de humor Stanislaw Ponte Preta fazia nas décadas de 60 e 70 uma seção chamada Febeapá, sigla de Festival de Besteira que Assola o País. Nela, Stanislaw compilava o besteirol que rolava por aqui. Ele pegou uma época que teve asneiras multiplicadas pelo poder que a Ditadura Militar foi concedendo à mediocridade pelo país afora. O negócio era sério. Só entravam notícias verdadeiras. Com o tempo os leitores foram colaborando com o tema, enviando de suas cidades as besteiras locais. Stanislaw fez até uma carteirinha para credenciar os colhedores de material. O documento era distribuído dentro de seus livros, que tinham tiragem bem alta na época.

Infelizmente, Stanislaw Ponte Preta (conhecido também como Sérgio Porto) morreu bem novo, aos 45 anos, em 1968, deixando assim de ver as besteiras se acumulando neste país. Hoje em dia a coisa piorou bastante. Como diz o Lula, nunca houve tanta besteira na história deste país. Inclusive com uma contribuição imensa do ex-presidente, como todos sabem. O Febeapá desses anos recentes daria muitos volumes, inclusive com seções em lulês e dilmês, novilínguas trazidas pela cultura petista.

E foi nesta quinta-feira que o Congresso Nacional produziu uma peça histórica para o Febeabá. Foi anulada a sessão do Senado da madrugada de 2 de abril de 1964, que declarou vago o cargo de presidente da República. Fizeram tudo nos conformes: a justificativa técnica da anulação é de que João Goulart ainda estava no Rio Grande do Sul. Bem, no dia anterior, como todas sabem, João Goulart havia sido derrubado por um golpe militar e passamos a viver numa ditadura que foi até 1985.

A anulação não tem valor prático algum. A não ser de entrar para o Febeapá, que merece ser reaberto para o acolhimento de tão soberba asnice. E se alguém vier falar em valor simbólico do ato do Senado, digo que simbolicamente parece mesmo é gozação. O Congresso Nacional peitou o golpe militar 49 anos depois dos militares derrubarem Goulart. A medida é tão idiota que a única sessão que ficará de fato na História é a que foi anulada na sessão de ontem.
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Por José Pires

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Imagem - A carteirinha para os colaboradores do Febeapá, com a foto do cronista no lugar onde o leitor devia colar sua fotografia. Note que a credencial é para colher material para o Febeapá Nº 3. Normalmente os livros de crônicas de Stanislaw Ponte Preta vendiam bastante no Brasil, sucesso que também acontecia com as edições que juntavam as besteiras de todo o país, mas principalmente de Brasília, publicadas por ele na sua coluna no diário Última Hora, de 1955-1968. Outro detalhe interessante desta carteira é a editora que publicava os livros, a Sabiá, de propriedade dos escritores Fernando Sabino e Rubem Braga, este último um dos maiores textos que nossa terra já teve.

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