domingo, 4 de maio de 2014

Duras lembranças do poeta

Saiu finalmente o livro de Domingos Pelegrini sobre o poeta Paulo Leminski. A editora Geração Editorial resolveu encarar os riscos e colocar nas livrarias as recordações escritas por Pelegrini sobre sua convivência com Leminski, que morreu em junho de 1989, com apenas 45 anos. Este relato havia sido uma encomenda da própria família de Leminski, que quis proibir a publicação depois de ler o texto e discordar bastante sobre encaminhamento que o autor deu ao assunto. Em contraposição a esta tentativa de censura, Pelegrini disponibilizou o livro na internet.

O poeta morreu de cirrose hepática e nos últimos anos de vida estava em condição física lastimável. Cheguei a vê-lo nessa época em São Paulo e realmente sua situação era triste. Estava destruído pelo álcool. A discordância principal da família com este livro foi Pelegrini ter destacado este lado muito sofrido da vida de Leminski.

De fato, a breve biografia escrita por Pelegrini carece bastante de lembranças sobre o vigor de Leminski, com as indicações das fontes (especialmente artísticas) onde ele tirava tanta energia para fazer a obra que, a meu ver, infelizmente ficou pelo meio. Faltou-lhe tempo de vida até para revelar o que realmente era capaz de produzir, o que dificulta qualquer avaliação conclusiva. A morte precoce acabou criando um mito, o que faz muitos o elevarem a uma altura literária que nada tem de real.

Pelegrini teve com Leminski uma amizade de mais de vinte anos e por isso teria possibilidade de dar ao leitor um bom relato pessoal sobre as fontes da qualidade do amigo como criador e também como o vibrante provocador de polêmicas. Daria para fazer isso sem deixar de lado a tragédia pessoal do retratado, que evidentemente tem um peso essencial em sua vida. Talvez seja pelo pouco que o autor dedicou às boas coisas da vida de Leminski que este lado do sofrimento tenha soado muito negativo.

Mas, enfim, o que está agora nas livrarias é a visão de Pelegrini, que ele tem todo o direito de expor. Era intolerante a tentativa de censura feita pela família, que agora a Geração Editorial resolveu enfrentar, sob o risco de sofrer um processo. Isso é possível, enquanto o STF não julgar em favor dos biógrafos uma ação que está no tribunal.

A editora pesou a mão na escolha da imagem da capa do livro. É uma foto dos últimos anos de Leminski, que o mostra já bastante debilitado pelo álcool. A imagem destaca exatamente a falha que comentei sobre o texto. A capa do livro dá ao leitor a sensação de que são nada boas as lembranças de Leminski.
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Por José Pires

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