sábado, 21 de junho de 2014

Presença inesperada

Já estava tão certa a reeleição do governador do Paraná, Beto Richa, que a opinião corrente era a da sua vitória já no primeiro turno. Sua concorrente direta vinha sendo a senadora Gleisi Hoffmann, mulher do ministro Paulo Bernardo. O casal é de muito prestígio no governo do PT, desde o primeiro mandato de Lula. Porém, os dois têm mostrado que a habilidade no aproveitamento do poder não se converte, da parte deles, em fortalecimento do projeto político que os sustenta. Ao contrário. Gleisi Hoffmann é desatenta a ponto de levar para trabalhar no Palácio do Planalto um assessor que acabou sendo preso acusado de estuprar menores. E seu marido, Paulo Bernardo, foi quem alimentou todo o crescimento vertiginoso da carreira de um pupilo que hoje em dia não vale um dólar furado: o deputado André Vargas.

Com adversários desse feitio, Beto Richa já estava crente que passaria o cargo para ele mesmo. Até que apareceu o senador Roberto Requião para estragar o passeio do tucano. Ele será candidato a governador pelo PMDB. Com este fato novo, já se fala que o segundo turno é inevitável. Pois eu digo que Richa pode até perder para Requião, caso não conserte com urgência os erros que vêm cometendo. E deixe de cometer novos, é claro. Um grave engano foi a confiança excessiva nos líderes peemedebistas que aliciou com cargos no governo. O PMDB já era dado como fechado com a reeleição do governador.

A vitória de Requião no PMDB foi uma surpresa que serve inclusive como forte impulso emocional à sua candidatura. O toque de garra é de um peso que ajuda muito em política e Requião já mostrou que tem pique para sustentar um ritmo desses até o fim. O cara é fogo. Com certeza ele vai trazer à disputa um teor crítico que Richa terá de ser muito hábil para enfrentar sem borrar sua imagem de bom moço.

Requião tem uma personalidade terrível e não é de hoje. Vou contar uma história dele, dos anos 70, extraída do livro “Como se fiz por si mesmo”, obra-prima memorialística de Jamil Snege, escritor curitibano que apesar de ter sido sempre pouco notado é um dos maiores do país. Snege perdeu muito tempo trabalhando em publicidade. Ele mesmo dizia isso no final da vida, que acabou pra ele em maio de 2003. Foi também marqueteiro político, quando fez várias campanhas para Requião. Vamos a um trecho que extraí do livro dele, “datilografado” à antiga.

“O que Roberto Requião fazia nos inícios de 70? Guerrilha, revolução armada, sublevação das massas. Porra nenhuma. Chegava em minha casa geralmente no sábado, com a mulher Maristela, sentava-se num sofá xadrez e até uma, duas da madrugada, entretinha a platéia com casos do mais irreverente e cáustico humor. Findo o repertório, escolhia uma vítima entre os presentes e torturava-a até a morte, a menos que alguém o interrompesse com um prato de spaghetti à matricciana.”

Este é o Requião. E o Paraná inteiro sabe que nesses últimos quarenta anos ele piorou bastante. O Beto Richa que se prepare. O spaghetti à matricciana virá só depois da eleição.
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Por José Pires

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