quinta-feira, 12 de junho de 2014

Merchandising

É até triste ver a imprensa brasileira entrar em qualquer jogada comercial com uma ingenuidade que serve muito bem aos manipuladores. Já faz tempo que redações vêm servindo de suporte para assessorias de imprensa ou mesmo de propaganda. Nossas publicações servem de instrumento fácil para montadoras de automóvel, marcas de bebidas alcoólicas, bancos, fábricas de celulares ou computador, gravadoras, editoras e tantas outras empresas, bastando para isso ações de suas assessorias, que muitas vezes são presentes pessoais dos mais bobocas, às vezes um bagulho eletrônico de presente ou viagens pagas pelas empresas para jornalista fazer matérias aduladoras sobre lançamento de produtos.

Na maioria das vezes nem precisa de presentinho. Os grandes estúdios de Hollywood recebem hoje em dia da nossa imprensa uma cobertura que é tão bajuladora quando a propaganda que eles mesmos fazem de seus filmes. Sites brasileiros e publicações impressas embarcam em qualquer onda publicitária que venha do exterior. É um resultado da política de ocupação ligeira de espaço. Lembram do famoso "selfie" feito por Ellen Degeneres com vários astros de Holywood na noite da entrega do Oscar? Pois é, aquilo foi uma jogada publicitária da Samsung.

Agora, com a abertura da Copa do Mundo, teremos também performances encenadas para parecerem natural, mas que no fundo tem um planejamento rigoroso. Esta entrega de um retrato do jogador Neymar pelo pintor Romero Britto parece ser uma dessas jogadas. A imprensa trata o assunto como se fosse uma homenagem espontânea, assim como a aceitação da parte do jogador, que logo depois deu publicidade ao fato em seus perfis na rede. Então tá: o artista está em casa e resolve fazer um retrato de um jogador dos mais bem pagos do mundo, depois pega um táxi e vai entregar a obra ao destinatário, que o recebe da forma mais despojada e logo publica a foto na internet.

Ora, atletas como Neymar não dão um passo sem um planejamento de sua assessoria e o respeito à cláusulas de contratos publicitários. E também não é pelo valor artístico que Romero Britto ganhou destaque na mídia. O marketing pessoal dele é muito forte e envolve bastante dinheiro. E Britto também é "embaixador" da Copa, cargo que obviamente não ocupa de graça, então é um serviço dele. Mas o encontro pode ter também em vista um outro projeto de muito ganho financeiro, talvez até a marca de algum produto proximamente, caso Neymar se dê bem nesta Copa do Mundo. Pode ser caneca, vaso de flores, capinha de celular ou qualquer outro badulaque, que o Romero Britto está aí para isso mesmo.
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Por José Pires

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