quinta-feira, 10 de julho de 2014

Seleção rebaixada

Dois jornais europeus de um país muito ligado em futebol demonstram nas capas de suas edições de hoje o desastre do futebol brasileiro. São jornais espanhóis, um deles o famoso diário esportivo Marca. Na passagem da seleção da Argentina para a partida final da Copa do Mundo o destaque é para a rivalidade histórica entre Brasil e Argentina, no que eles estão certos. Esta não é apenas uma rivalidade regional. O confronto entre Brasil e Argentina, com sua influência sobre a cultura dos dois países, adquiriu uma simbologia muito forte no futebol mundial e tem servido inclusive como um chamariz eficiente para as duas seleções. Essa rivalidade acaba favorecendo a uma e outra, chamando a atenção para os dois países no futebol mundial. É o que se vê aqui nessas capas, mas desta vez a forma de tratar o assunto deveria servir para que os brasileiros prestassem um pouco mais de atenção ao sinal vermelho que avisa de um grave perigo: a decadência do futebol brasileiro está num ponto crucial, pondo em risco uma marca cultural importante do nosso país, de grande valor inclusive comercial.

A manchete do El Periodico é fatal. "Argentina no es Brasil", eles dizem, fazendo aqui uma inversão de conceito. Antes era o Brasil que se sobressaia na comparação. Com o sete a um tomado da Alemanha muita coisa mudou. Por mais talentoso que seja o futebol argentino, o Brasil mantinha-se na frente em avaliações mundiais. Tínhamos todo um capital futebolístico criado por gerações anteriores. Nem vou citar nomes, pois são tantas figuras geniais que o post se alongaria bem lá para baixo. Já o diário esportivo Marca dá uma manchete com o aniquilamento do nosso futebol. "Argentina, remata o Brasil", diz a chamada. Na nossa língua também temos o verbo "remata", que possui sentido parecido. No entanto, essa palavra é pouco usada aqui da forma que faz o jornal espanhol. O significado é de dar fim a algo. O jornal fala da condenação dos brasileiros em ver o rival histórico na disputa final em pleno Maracanã. Caso a Argentina seja campeã temos o jargão popular: será "de matar".

A cobertura da imprensa mundial tem sido nesta mesma linha dos jornais espanhóis. É o fim de um ciclo de prosperidade e de grande prestígio do futebol brasileiro. Nesse sentido, o sete a um pode ser visto como um daqueles males que podem ter vindo para o bem. Isso se servir como alerta do perigo. Tem que haver uma consciência dos brasileiros sobre a necessidade de tirar do poder a cúpula de dirigentes que vem gradativamente destruindo o futebol, com altas doses de corrupção e uma aniquiladora incompetência. Entretanto, já armam uma manipulação para tirar o foco da real origem do problema. Fala-se em mudança de técnico, avaliam este ou aquela jogador. Mas o desastre em campo é apenas o sintoma de uma falência generalizada criada pelos péssimos dirigentes do futebol.

No Brasil, esta trágica situação da classe dirigente não é um problema relativo apenas ao mundo esportivo. Na política também vivemos esta terrível situação, sendo que a decadência do nosso futebol tem relação direta com a corrupção e as graves deficiências administrativas do poder público. Uma coisa leva a outra, nas duas mãos dessa patifaria conjunta. O Brasil tem que acordar para esses problemas. Estamos perdendo muito da riqueza construída por várias gerações em nosso país. Agora, pelo que se vê, até o futebol está se tornando uma qualidade do passado.
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POR José Pires

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