Você já ouviu falar de alguém que não tem compaixão por uma família que perdeu um ente querido num desastre? Tem que ser um psicopata para não se comover com isso, não é mesmo? E teria de ser um psicopata já numa deformação psicológica bem avançada, praticando crimes com frieza, alguém como Hannibal Lecter, o assassino em série e canibal interpretado pelo Anthony Hopkins. Ora, todo mundo se comove com o sentimento de perda de uma família. Bem, então não é preciso ficar afirmando algo tão óbvio e nem se defendendo de ter esquecido de lembrar aos outros que temos estes sentimentos próprios de qualquer ser humano, não é mesmo? É até chato ficar o tempo todo dizendo "ei, pessoal, eu não sou o Hannibal Lecter".
Mas não é assim. Ou melhor, não querem que seja desse modo natural. Hoje em dia parece que existe uma obrigação de ficar se explicando sobre sentimentos óbvios. É imposição do politicamente correto, que vem dominado nossa cultura de forma cretina, rebaixando o senso crítico e dificultando a discussão objetiva dos nossos problemas. O domínio dessa subcultura é tamanho que até obriga de vez em quando a colocação no meio de um texto da explicação óbvia de que não estamos dizendo nenhum absurdo desumano que não está claramente escrito ali. A obrigação é até tola, mas a falta do esclarecimento deixa um espaço para a militância azucrinadora exigir um linchamento público pelo que você jamais escreveu e nem pensou.
Com a morte trágica do candidato Eduardo Campos reapareceu com bastante força este conceito politicamente correto e neste caso veio da forma mais absoluta, inclusive com o componente básico da hipocrisia. Nem todo puritano é um pervertido sexual, mas se o puritano exibe argumentos politicamente corretos tirem as crianças de perto dele: é um pervertido da pior espécie. E na política é ainda mais aterrador o uso do politicamente correto. Por detrás desse conceito existe sempre a necessidade da manipulação, seja para esconder um malfeito ou para o ataque a alguém que traz um questionamento ou mesmo que pense diferente sobre o assunto em debate.
No caso da morte de Eduardo Campos, vozes compadecidas que exigem respeito ao falecido estavam há pouco, aos gritos, exigindo que a CPI da Petrobrás investigasse também o Porto de Suape, que mesmo se fosse um antro de corrupção nada teria a ver com o objetivo da CPI. Mas era preciso atingir a candidatura de Campos. Eles tinham que aniquilá-lo. E essas mesmas vozes compungidas de agora berravam também insultos e repassavam ataques sórdidos pela internet. E como ainda não era necessário vir com o fingimento do politicamente correto, nem a vida pessoal do candidato era poupada. Assim como eles não têm escrúpulo de inventar mentiras sobre o Aécio Neves, o José Serra, o Reinaldo Azevedo, o Joaquim Barbosa e até sobre o Ney Matogrosso ou qualquer um que não fizer parte da claque obrigatória.
O canibal feito por Anthony Hopkins tem um toque importante em sua personalidade, que o ator transmite muito bem. É o da extrema amabilidade. Um canibal agressivo não permitiria suspense algum, além da dificuldade óbvia dele atrair qualquer vítima dessa forma. Os psicopatas costumam ser figuras muito amáveis, dedicando uma atenção extrema ao sentimento alheio. É como o politicamente correto. Mas essa extrema compreensão e delicadeza só vai até o momento em que a vítima está sob seu domínio. Por isso, é preciso tomar cuidado. Não podemos deixar o Brasil ser dominado por esses canibais.
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POR José Pires
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