quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O currículo de Marina Silva

Para os que estão animados com a candidatura de Marina Silva aconselho mais equilíbrio porque ela pode ter entrado no páreo como um cavalo paraguaio. Em eleição no Brasil sempre tem um competidor desse tipo. Cavalo paraguaio é aquele time que começa muito bem um campeonato, mas no final acaba ficando para trás. Na política brasileira o mais vistoso deles vinha sendo Ciro Gomes, um cavalo paraguaio que Lula gostou de montar. Na eleição passada, Marina animou muita gente, porém foi de José Serra a passagem para o segundo turno. E 2010 foi um ano em que, disputando pelo Partido Verde, Marina não tinhas as responsabilidades e exigências que terá agora em campanha. Aliás, já que a situação se apresenta, devo dizer que naquela eleição ela ignorou o risco que era a eleição de Dilma. Na prática, Marina deu seu apoio à Dilma contra Serra. E não tenho nenhuma dúvida de que com Aécio Neves no segundo turno contra Dilma ela novamente apoiará a candidata do PT, sempre na forma disfarçada da liberação do voto de seus partidários.

Mas ela pode ganhar a eleição. E aí os problemas aumentam. A candidata do PSB tem um histórico muito fraco como administradora e uma dificuldade danada com alianças políticas. Teve uma grande chance de demonstrar capacidade porque foi dela durante quase oito anos um dos ministérios mais importantes da atualidade. No entanto, não mostrou habilidade e muito menos teve a técnica para dar um equilíbrio entre a necessidade da proteção ao meio ambiente e a dependência econômica do país com o sucesso da pecuária e da agricultura. O setor ainda é o grande peso em nossa balança comercial. Equilibrar a necessidade de ganhar dinheiro com o respeito ao meio ambiente ainda é o grande desafio brasileiro.

Nas vezes em que foi testada de forma prática na política Marina falhou. Nem vou falar do projeto político dela na sua base eleitoral. No seu Acre ela é um fiasco. E como eu disse, foi muito fraca no seu cargo mais importante, durante os dois mandatos de Lula, num dos piores governos da nossa história na questão do meio ambiente. Como presidente, Lula até fazia piadas desmoralizando as preocupações de ecologistas, zombava de regras de proteção ao meio ambiente e obviamente colocava em prática um modelo de governo sem nenhuma atenção ao desenvolvimento sustentável. É dele a lamentável frase de que entre um "cerradinho" e a soja, ficava com a soja. Como se fizesse sentido este raciocínio. Enquanto fazia isso, ele tinha Marina ao lado.

Marina saiu do governo do PT apenas no momento em que ficou muito claro que a sucessão de Lula seria com Dilma Rousseff. O que causou sua saída não foram conflitos de conceito de governo, como ela pretende justificar a transferência, primeiro para o Partido Verde e depois para montar seu próprio partido, o Rede Solidariedade. Nesta vida partidária pós-PT ela também falhou de forma grave. No PV não teve capacidade de convencimento na defesa de suas propostas. Historicamente nunca foi seu partido, porém ela queria apenas ser obedecida. Este é um defeito que várias pessoas próximas dela dizem ser muito forte na sua personalidade. E depois ela nem conseguiu legalizar seu Rede Solidariedade. A candidata de 20 milhões de votos não teve capacidade de juntar assinaturas suficientes para criar um partido.

A candidata do PSB manteve-se calada durante todos os escândalos de corrupção nos dois mandatos de Lula, até no mensalão, que levou a cúpula do PT à prisão. Fechou-se num silêncio cúmplice também sobre os equívocos do modelo econômico de Lula, inclusive no tocante ao aspecto predatório ao meio ambiente e a dificuldade de sustentação de longo prazo. Só deu o pé do governo quando viu que não era ela a escolhida do chefe. Dos três candidatos com mais chances de vitória, Marina é a única que só dá pra saber ao que veio depois de sua eleição. A democracia dá o direito de escolher. Mas na minha visão o país não tem fôlego para mais um erro nas urnas.
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POR José Pires

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