terça-feira, 2 de setembro de 2014

O ministro sem pasta de Aécio Neves

O tucano Aécio Neves deu um lance no jogo que me pareceu precipitado nesta eleição de três candidatos que não valem um. Foi a nomeação antecipada de Armínio Fraga para o ministério da Fazenda. Nunca aconteceu algo parecido e não teve nada disso até agora não porque tenha faltado aos candidatos de tantas eleições anteriores a sabedoria que sobra no candidato tucano. Eu acho é que os outros candidatos não eram doidos de fazer uma coisa dessas.

Nomeação de ministro antes de ganhar eleição soa como arrogância, por mais que o candidato faça as ressalvas óbvias sobre a necessidade do aval das urnas a esta intenção. Aécio vem fazendo isso toda vez que fala de seu ministro que ainda não tem pasta, o que fica até cômico. Mas este é um problema menor, frente aos outros questionamentos que podem vir à cabeça do eleitor.

O alinhamento de Armínio Fraga com os tucanos já é conhecido. Ele fez parte do governo Fernando Henrique, ocupando a presidência do Banco Central. Portanto, do ponto de vista político a presença confirmada dele como ministro da Fazenda nada acrescenta como convencimento junto ao eleitorado histórico dos tucanos. Porém, sua visão liberal da economia faz dele um bom alvo dos adversários e cria uma antipatia com o eleitorado de perfil econômico mais baixo. Na verdade, na atual situação de crise a presença de Fraga como poderoso ministro de um futuro governo acaba sendo um problema até no convencimento da classe média.

Esta estranha nomeação já fez dele uma pauta da imprensa, o que sempre pode resultar em desgastes. A menos que ele saia por aí falando como um político, mas então seria melhor dar-lhe outra pasta. Ainda que também imaginária, a Casa Civil talvez fosse mais adequada para fazer política na campanha. Uma fala dele que soou como um ataque aos aumentos do salário mínimo é um assunto que já tem rendido para os adversários. Na mesma entrevista, ele falou sobre "medidas impopulares", um excelente assunto em eleição. Mas para os adversários. Fraga falou como economista e deu opiniões intelectualmente respeitáveis. O chato é a eleição em andamento. Ser ministro da Fazenda de um país com tantos problemas como o Brasil nunca foi fácil, mas ser ministro ainda sem o poder torna as coisas mais difíceis.

Um problemão essa nomeação antecipada, não é mesmo? O ministro da Fazenda do Aécio nada acrescenta junto ao eleitorado que conhece bem o pensamento econômico dos tucanos. Tampouco tem peso eleitoral junto aos eleitores de perfil econômico mais baixo. Ao contrário, pode causar temor em quem precisa do amparo do Estado. Ora, então a nomeação do Armínio Fraga só aconteceu para garantir ao mercado e aos empresários a confiança na capacidade e responsabilidade de um futuro governo tucano. Mas espera aí, o Aécio Neves já não dava essa garantia? Abre-se um espaço para a gente achar que para isso o candidato a presidente da República não servia. Pois é, eu falei que essa nomeação prematura era um problemão para os tucanos.
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POR José Pires

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