quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O mundo fora da eleição brasileira

O fato do tema do terrorismo internacional ter vindo ao debate político por meio de um discurso demagógico da presidente Dilma Rousseff na ONU demonstra bem o nível de baixa qualidade desta eleição e a dificuldade da nossa classe política de se inserir no mundo. Na cena mundial, a política brasileira é provinciana. Tanto no governo quanto na oposição temos no comando um baixo clero de lideranças que não estão nem aí para as transformações terríveis que assolaram o mundo nos últimos tempos. Um país de tamanha dimensão geográfica e peso econômico não tem políticos à sua altura.

Essa despreocupação seria lamentável até num país pequeno como o Uruguai, onde um esquerdista provinciano como o presidente José Mujica pratica sua demagogia alternativa nos terrenos minados do tráfico internacional e do terrorismo islâmico — duas ideias geniais suas num país ainda pacato foram a de liberar a maconha e abrigar egressos da prisão americana de Guantánamo. Da segunda sacada política ele já desistiu e quanto à maconha, Mujica já acordou para o fato de que num país do tamanho do Brasil isso é um pouco mais complicado. Logo mais creio que ele vai se conscientizar de que, apesar de miúdo, seu país está numa delicada região fronteiriça.

Mas atravessemos pro nosso lado. É sintomático que esta importante questão internacional tenha vindo de forma eleitoreira pela boca da candidata petista à reeleição, Dilma Rousseff. Mas de que jeito Marina Silva e Aécio Neves entrariam num assunto que sempre esteve fora de suas pautas? Além de ter ficado oito anos no governo mineiro, Aécio esteve nos últimos quatro anos no Senado. Alguém sabe de uma opinião dele sobre este tema? E Marina é aquela ambientalista que fala pouco, um quase nada de geopolítica.

A fala de Dilma na ONU foi uma mera jogada eleitoreira. O discurso com tema doméstico fora do contexto e o risível apelo ao acordo pacífico com o grupo Estado Islâmico foi apenas para engambelar brasileiros desatentos aos terríveis perigos da atualidade no mundo. Foi aquele "falar grosso" com os Estados Unidos, conforme acredita o Chico Buarque. E como quase ninguém no Brasil tem interesse política internacional, a falsa imagem combativa pode até render uns votinhos.

Teve uma época em que um discurso desses serviria para rirmos bastante. Mas nos dias de hoje isso não está pra brincadeira. A fala de Dilma demonstra a irresponsabilidade do grupo político que está no poder em nosso país. Desse jeito vão nos colocar em fria, talvez até complicações externas muito piores do que aquelas que Dilma e seu grupelho de extrema-esquerda iria colocar o Brasil entre os anos 60 e 70, caso desse certo o projeto político que tentaram impor pelas armas a todos os brasileiros. O comando daquilo que eles faziam vinha de fora, por meio de financiamento, treinamento e doutrinamento ideológico. Na atualidade, vive-se o risco do país se alinhar a um mal muito mais difícil de escapar depois.

No vazamento recente de documentos secretos do governo americano feito pelo Wikileaks chamou pouco a atenção um relatório da embaixada americana no Brasil sobre risco como potencial foco de terroristas da região da tríplice fronteira, no sul do país. O ambiente é propício para arranjos perigosos, como a aliança entre terroristas, traficantes e contrabandistas. E isso numa região que permite operações financeiras de todos os lados sem qualquer controle. O Brasil tem muito com que se preocupar.

E devemos lembrar que o nosso continente já teve terrorismo grave ligado ao extremismo islâmico. Foi na Argentina, com o atentado racista na explosão de um carro-bomba no prédio da Associação Mutual Israelita, a Amia. O governo do Irã está envolvido neste assunto. Um dos acusados de organizar o ataque é Ahmad Vahidi, atual ministro iraniano da Defesa. O país se nega a extraditar acusados, que estão no Irã, fora do acesso da Justiça argentina. Foi o pior atentado terrorista ocorrido na América Latina e este ano completou 20 anos, ainda na impunidade. O número de vítimas é espantoso: 85 mortos. Mas não surpreende o acobertamento ocorrido num continente em que historicamente a esquerda vem se alinhando perigosamente com forças políticas perigosíssimas, antes com potências comunistas e agora numa relação estranhamente passiva ao terrorismo islâmico.
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POR José Pires

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