sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Recebendo por fora

Nesses dias a senadora petista Gleisi Hoffmann andou publicando no Facebook em posts pagos uma explicação desmentindo notícias que davam como certa sua nomeação para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). No texto, ela lamentava ter de "conviver com invenções, ilações e especulações". Realmente, não é fácil suportar o clima de animosidade da política brasileira, mas sendo da base do governo até que a senadora tem menos motivos para se queixar do que a bombardeada oposição, que tem sobre si inclusive uma máquina profissional de comunicação montada pelo governo exclusivamente para atacar adversários.

Antes do desmentido sobre a vaga no TCU, Gleisi andava ocupada tentando abafar a citação de seu nome em depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, no acordo de delação premiada feito por ele. O diretor da estatal havia dito que ela recebeu R$ 1 milhão do esquema de corrupção da estatal. A revelação do depoimento foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 19 de outubro e de imediato Gleisi negou tudo, afirmando ainda que a notícia era falsa e que iria processar o jornal. Segundo a reportagem, o ex-diretor da estatal disse também que o marido da senadora e atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, teria recebido o dinheiro.

Na nota que lançou no mês passado, a senadora petista não falou em "invenções, ilações e especulações", mas procurou sair fora do assunto. Pois nesta quinta-feira surgiu de novo a acusação dela ter recebido dinheiro do esquema, desta vez feita pelo doleiro Alberto Yousseff, também em delação premiada. Yousseff confirmou em depoimento ao Ministério Público Federal que deu R$ 1 milhão à campanha que a elegeu ao Senado pelo Paraná, em 2010. O doleiro até detalhou a forma do repasse do dinheiro, feito em quatro parcelas e entregue em espécie.

Em sua constante política de desinformação, os petistas têm procurado confundir as pessoas quanto ao significado de uma delação premiada, manobra fajuta feita por eles evidentemente porque é o PT que vem sendo atingido diretamente nos depoimentos. Delação premiada exige comprovação das afirmações feitas pelo preso, o que significa que tanto para Gleisi quanto para seu marido ministro a situação é braba. Além disso, Youssef é um veterano no assunto. É sua segunda delação premiada e ele precisa muito dela para evitar passar parte considerável de sua vida na cadeia. O doleiro não quer ter no esquema da Petrobras o mesmo destino de Marcos Valério no mensalão. Valério vai passar muitos anos preso enquanto certas figuras nem foram levadas a julgamento no STF e outras até sofreram condenação, mas já estão em casa.

Gleisi está no ponto mais delicado de uma carreira prodigiosa, com boa parte desse sucesso alcançado junto com o deputado André Vargas, outro fenômeno político paranaense, até sua queda escandalosa causada pela descoberta de suas relações como o mesmo doleiro que afirma que deu bastante dinheiro para a senadora paranaense. A carreira dela e Vargas foi sustentada pelo grupo chefiado por Paulo Bernardo no Paraná. Um dos ministros preferidos de Lula em seus dois mandatos e com um ministério também no governo Dilma, Bernardo era a ponte que sempre facilitou aos dois as relações com o poder.

Mas hoje em dia sua situação a leva ao mesmo abismo para onde foi o deputado Vargas. O que lhe dá alguma sustentação são os quatro anos de mandato que ainda tem no Senado, apesar do risco agora sempre pendente de uma cassação. Hoje em dia, Gleisi teria dificuldade até para se eleger vereadora. Nesta eleição de 2014 ela disputou o governo estadual e teve apenas 800 mil votos. E uma ironia da vida é que ela já recebe dos companheiros o mesmo o chega pra lá que deu no deputado Vargas assim que ele caiu em desgraça. Durante este segundo turno a presidente Dilma Rousseff esteve em Curitiba fazendo campanha e não quis ter sua ex-ministra da Casa Civil por perto. É provável que na próxima eleição nem candidato a prefeito e candidato vereador de cidade pequena vão querer ficar ao lado de Gleisi.
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POR José Pires


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Imagem- Gleisi Hoffmann e o deputado André Vargas quando eram companheiros de muito sucesso

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