quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Utopias econômicas inexplicadas

Na sua saída do ministério da Cultura, Marta Suplicy revelou na carta de demissão uma tática que o PT já põe em campo para enfrentar a dura caminhada eleitoral até as eleições municipais de 2016. O partido tem falado da volta de Lula em 2018, mas isso é o despiste de sempre. O problema petista mesmo é com a eleição para as prefeituras e câmaras de vereadores, uma situação que vista deste ponto em que estamos é desastrosa para o partido. O esforço para se manter no governo federal e a estratégia escolhida para ficar de qualquer jeito no poder demoliu o PT em municípios importantes pelo país afora. É raríssimo o município em que hoje em dia a imagem local do PT seja boa. E nem estou falando só de lugares onde as lideranças locais se meteram com corrupção ou doleiros e estupradores. A sujeira na ficha é geral.

O que Marta fez na sua carta de demissão foi começar a descolar sua imagem de um desastre anunciado, pontuando ao mesmo tempo uma linha de oposição dentro do partido a este modelo que está aí. O PT vai seguir no jogo de sempre, com a posição retórica de esquerda trabalhada na propaganda e comunicação do partido, enquanto no poder vão colocando em prática o mais do mesmo em economia. Conforme o teor negativo do cenário, eles podem até isolar Dilma (com o consentimento disciplinado dela) e encaixam na campanha o discurso da mudança a partir das eleições municipais. É com essa imagem que Marta pretende chegar lá, daí as palavras escolhidas criteriosamente para se desvincular da crise que estourou agora no governo Dilma. Caso Haddad chegue a 2016 com pouca popularidade, o partido desiste de sua reeleição e entra com a senadora petista como candidata à prefeitura de São Paulo, neste caso também com a disciplinada aquiescência deste outro poste de Lula.

Enquanto isso, é claro que vai-se quebrando o pau internamente entre os petistas, na divergência entre o modelo econômico que vem sendo aplicado e uma alternativa que na verdade nunca foi bem definida pelo PT. É claro que não poderia deixar de ser "do bem" esta variante econômica, mas os setores à esquerda dentro do partido nunca esclareceram como é que vai ser esse negócio na prática. Nem eles se entendem sobre o que vem a ser afinal essa política. Por enquanto, essa economia que quebra as cadeias do "neoliberalismo" se fecha sempre numa conclusão de um Chicó — aquele personagem de Ariano Suassuna. Não de um Chicó com suas histórias do passado, mas falando de um futuro excelente pro Brasil: "Não sei, só sei que SERÁ assim".
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POR José Pires

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