O senhor que foi atropelado e morto nesta semana em São Paulo por uma bicicleta dá seguimento a uma nova divisão social criada pelo oportunismo e a incompetência dos políticos brasileiros, especialmente os de esquerda: de um lado ficam os pedestres e do outro os ciclistas. E a briga só tende a piorar. A nova confusão vem desta proliferação desequilibrada de vias exclusivas para ciclistas nas cidades brasileiras. Um dos equívocos é o de tirar as bicicletas do lado dos automóveis, nas ruas, para colocá-las rodando junto aos pedestres. E se tem algo que não dá certo de forma alguma é pedestre e bicicleta transitando no mesmo espaço. Aliás, o melhor é que não fiquem nem próximos. As pistas deviam ser exclusivas para bicicletas, mas como fazer isso no Brasil, onde os espaços urbanos carecem bastante de planejamento?
A dificuldade entre pedestre e a bicicleta é coisa antiga e nisso cabe sempre ao ciclista a parcela maior de responsabilidade, qualidade sempre em falta por aqui, independente do veículo. Já havia o inferno criado pelos motociclistas em nossas vidas e agora teremos de aturar ciclistas, que no geral são piores na quebra de regras do que quem dirige uma moto. Sei disso, porque enfrento a questão tanto como pedestre quanto como ciclista. Um grande perigo nas cidades brasileiras é o de bicicletas rodando na calçada, atitude que mereceria uma punição bem rigorosa, mas não dá em grande coisa para o culpado, da mesma forma que qualquer outro acidente de trânsito. Já é grande hoje em dia o risco de morrer ou ficar com sequelas graves ao pisar na calçada saindo de casa ou de uma loja. Um atropelamento por bicicleta pode causar danos físicos graves, mesmo se o ciclista estiver em baixa velocidade. E quem espera que venha um ciclista idiota pela calçada? A situação atual me obrigou a tomar cuidados extras como pedestre. Agora, além deter atenção aos carros nas ruas, tenho também que cuidar das bicicletas, que podem vir em qualquer lugar. Se correr, o bicho pega e se ficar, o bicho come. Tanto faz agora, se na rua ou na calçada.
Lugar de bicicleta é na rua, junto aos carros. Sei que motoristas não respeitam as regras nem entre eles, hábito perigoso que piora em relação ao ciclista. Este é tratado como inimigo, mas o que se há de fazer? A opção de sair de bicicleta é do ciclista. E sendo este o caso, não faz sentido transferir o risco para o pedestre, na calçada. Mas como defender a segurança do pedestre, que terá sempre razão até pelo fato de ser o lado mais frágil neste massacre social entre doidos, que começa nos carros? Não com ciclofaixas misturadas aos espaços do pedestre.
Se tivesse estudado com atenção o uso da bicicleta, o prefeito Fernando Haddad saberia disso. Mas, puxa vida, estamos falando de um sujeito que produziu e lançou uma monografia na sua formatura como mestre em economia defendendo e exaltando o sistema social e econômico soviético justamente quando Mikhail Gorbachev dava fim à arrasada União Soviética. Do jeito que o prefeito petista vem fazendo as ciclofaixas paulistanas, a única surpresa que tenho com a morte por atropelamento de bicicleta em São Paulo é que isso tenha demorado a acontecer.
Mas o problema não é só dos paulistanos. Desastres surgirão também em outras cidades. Esta moda atual da valorização da bicicleta surgiu no Brasil do mesmo jeito improvisado e incompetente de tantas outras novidades vindas do poder público. Políticos de todos os partidos cometem desatinos parecidos nesta suposta valorização da bicicleta como meio de transporte, porém a esquerda sempre complica mais porque ideologizam também as duas rodas. Em São Paulo, onde o pedestre foi morto por uma bicicleta o debate é até partidário, resultado evidente do estilo administrativo de dirigentes públicos de esquerda, sempre focados na politização de qualquer coisa que fazem. É um jeito lamentável de administrar, porque pouco a pouco várias questões sociais importantes vão ficando estigmatizadas junto à população. Agora é a situação dos ciclistas que fica impossível de debater.
Sou um adepto do uso da bicicleta muito antes de políticos como o prefeito paulistano Haddad resolverem usar as ciclofaixas como oferta de palanque eleitoral. Lembram de ofertas anteriores, como a da distribuição geral de computadores? Agora é com a bicicleta. Não deram computador algum para a população. Bem, mas pelo menos isso não mata ninguém. O foco político na bicicleta veio sem nenhum planejamento sério, como acontece com quase tudo que se faz neste país. E as rolices rodam ligeiras. A gente ouve até argumentos favoráveis a esta nova onda extraídos do hábito do uso da bicicleta em países como a Dinamarca, Holanda e de outros lugares com uma longa história de planejamento urbano e civilidade entre os cidadãos. Nem dá para rir, porque é grande o risco de ser vítima dessa demagogia do improviso. Outros mortos e feridos virão com essa forma de favorecer o uso da bicicleta. Sobre duas rodas, o jeitinho brasileiro é ainda mais perigoso. Teremos inclusive o acidente entre bicicletas e outras novidades desastrosas criadas pela falida administração pública brasileira, agora transitando por ciclofaixas.
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POR José Pires
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Imagem- Pedalando bem longe de ciclofaixa: foto tirada por
mim neste mês de agosto, em estrada rural do norte do Paraná.