quinta-feira, 24 de março de 2016

O gênio embananado da política brasileira

Durante muito tempo tive que suportar até gente de grande capacidade de análise afirmando que Lula era um às da política e uma pessoa de inteligência rara. Sempre discordei disso e venho falando e escrevendo nesses anos todos que apesar de ele não ser evidentemente nenhum bobalhão, o chefão do PT estava na média do que é o político brasileiro, nem um pouco acima disso e bem abaixo de alguns deles. O que ocorre é que a vida é feita de oportunidades e acasos, que podem ser muito mais determinantes do que o talento.
Foi isso que Lula teve e soube aproveitar, além de ter uma boa sorte que já chamei de "sorte inversa", favorecendo-se de fatalidades e acontecimentos que o beneficiaram bastante. Existem vários fatos políticos que foram dando espaço para seu crescimento político. Entre esses tantos, cito as mortes de Mário Covas, Ulysses Guimarães e do próprio Tancredo Neves, ocorridas de formas muito diferentes. Com mais alguns anos de vida para esses três, Lula encerraria sua vida política talvez como deputado federal, atividade de que ele não gostava e na qual foi um dos mais medíocres do Congresso Nacional. Mas, enfim, não foi de outra forma que transcorreu a vida brasileira.
Lula sempre foi o centro do esquema de poder do PT em razão da decisão política de tê-lo como um mito, mantida até a vitória eleitoral que levou o partido ao poder. Ocorre que o funcionamento deste esquema não tinha suas decisões apenas no seu comando pessoal. Havia uma organização coletiva para isso, com laços inclusive fora do partido. Isso até o momento em que ele passou a acreditar com fé ainda maior no próprio mito e tendo a coincidência disso acontecer em conjunto com as quedas sucessivas de lideranças históricas, como foi com José Dirceu e outras figuras da cúpula petista. O mensalão foi um fato determinante neste corte de cabeças, mas o desmonte sempre contou com ações vindas do próprio caráter autocrático de Lula. Daí em diante ele foi sendo cada vez mais determinante nas decisões estratégicas e na administração do poder. Deu no que deu, porque ainda que tenha forte intuição e muita esperteza, sua capacidade não vai muito além do papel de mito que era reservado a ele. Lula não é o cara, nunca foi. Isso foi só uma brincadeira de Barack Obama. Mas quem poderia explicar ao petista, investido de tanto poder, sobre suas limitações e o risco político da personalização excessiva do planejamento e da decisão?
Creio que a situação atual do chefão do PT demonstra na prática a minha tese, que não é de agora, repito. Este destino fatal de Lula é resultado de uma porção de decisões suas totalmente equivocadas, muitas delas que ele poderia ter avaliado simplesmente lendo bons analistas políticos que apontaram repetidamente os equívocos, muitas dessas análises trazendo inclusive projeções políticas muito certas. Sua decisão mais idiota, todos sabem muito bem, foi a escolha de Dilma Rousseff como sucessora. E ele ainda repetiu o erro, mesmo após quatro anos em que ficou muito claro não ser ela a pessoa certa nem para a satisfação do egoísmo desmedido de Lula. Ou melhor, muito menos neste caso, como agora até ele já sabe. Mas Lula não lê, não estuda e não aceita opinião contrária aos seus desejos. Nem é preciso ter muito conhecimento de psicologia para saber o que pode causar uma personalidade dessas no comando de uma nação. Não é a primeira vez que um país sofre desse jeito depois de conceder tanto poder a alguém e nem será a última. Por isso, na derrocada de um líder nefasto como o chefão petista é preciso saber também que a trágica experiência não é uma garantia natural contra erros futuros. Após a finalização deste triste período político esta é uma lição a ser colocada em prática.
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POR José Pires

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