As autoridades brasileiras não se mancam que não está colando o espanto fingido com o massacre no presídio de Manaus? Parece que não. Nesta quinta-feira, o presidente Michel Temer falou sobre o assunto como se tivesse pisado sem querer em alguma sujeira. Foi a primeira vez que falou sobre o horror amazonense, cinco dias depois de todos os brasileiros saberem da notícia na passagem do ano. Como todos sabem, até o papa se tocou da dimensão do horror e deu de imediato sua opinião, mas o Temer é assim, bastante lerdo, a não ser para tocar reformas que atendem seu verdadeiro público-alvo, que evidentemente não é o brasileiro comum.
Temer classificou como “acidente pavoroso” o massacre em Manaus. Foram 56 mortos, com trinta deles decapitados. Acidente? De jeito algum, a não ser que se abandone qualquer lógica na definição do que é um acidente. Acidente, como já está se vendo, foi o próprio Temer, que teve que ser empossado como presidente da República como determina a Constituição, mas a matança durante a rebelião no presídio é decorrência natural do domínio gradativo do crime sobre a vida dos brasileiros.
Já faz tempo que o crime vem dominando o Brasil, com quadrilhas de traficantes e outros tipos de criminosos tocando o terror em comunidades inteiras, impondo suas próprias leis, com castigos terríveis e até a pena de morte, decidida da forma mais arbitrária. Como alguns desavisados descobrem pagando com a própria vida, nem passar de carro por esses lugares é permitido. Os criminosos mandam na vida de uma parcela considerável de brasileiros, gente que não tem absolutamente nenhuma autoridade com que contar para se defender de bandidos perversos que dão ordens em suas vidas até nas mínimas coisas. Em certos lugares, até para receber uma compra entregue no domicílio existe a obrigação de pedir antes ao bandido que manda na comunidade. TV a cabo, internet, gás, mudança de moradia, as coisas mais simples exigem autorização de um bando armado.
Será que Temer está com internet no Palácio do Planalto? Deve ter. Não é possível que a mesquinha da Dilma não lhe tenha passado a senha. Então, bastaria ele dar uma olhada nas notícias e ficar atento aos links que encaminham aos claros indícios de uma onda criminosa muito bem articulada. Uma das rebeliões com mortes ocorreu em outubro do ano passado, ocasião em que muitos presos foram mortos com crueldade impressionante mesmo para o padrão terrível das cadeias brasileiras. Foram oito mortos na capital de Rondônia. Um infográfico do site G1 lista cinco rebeliões no mesmo mês, com mortos e feridos, inclusive com 10 presos assassinados em uma penitenciária agrícola de Roraima.
No entanto, chamado a dar sua opinião naquele mês, o ministro da Justiça de Temer, este que tem a mania de sair em fotos derrubando pés de maconha com um facão, disse que era uma “situação pontual”. E ainda insistiu que era necessário observar mais e ver se o problema persistia, para a partir daí tomar as medidas necessárias. Será que já houve tempo hábil de observação ou ao menos a quantidade de mortos já é suficiente para que o problema seja atacado com mais seriedade? Só nos cabe esperar, sempre tomando todo o cuidado ao sair de casa e até mesmo dentro dos nossos lares, pois, ao contrário do Temer, sabemos muito bem que o Brasil virou um país em que não é por acaso que os acidentes acontecem.
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POR José Pires
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