O mandado internacional de captura emitido pela Justiça espanhola contra Ricardo Teixeira deveria servir para uma rigorosa autocrítica da Justiça no Brasil, mas é claro que não acontece nada disso. Ao contrário, com a Espanha já com o pedido de prisão contra o cartola, nossa Justiça pretensiosamente assumiu ares de capacidade de resolução contra criminosos. A Procuradoria-Geral da Justiça está querendo a transferência para o Brasil da ação instaurada na Espanha.
Teixeira, que foi presidente da CBF por mais de 20 anos, é acusado pelos espanhóis de lavagem de dinheiro, obtida em comissões por fora na venda de amistosos da Seleção Brasileira. O cartola brasileiro teria dividido comissões de quase R$ 50 milhões com o ex-presidente do Barcelona Sandro Rosell. Bem, o cartola espanhol já está preso há quase dois meses na Espanha. E Teixeira mantém-se na maior tranquilidade aqui no Brasil, apesar deste rolo com os espanhóis não ser sua única encrenca internacional.
Ele é acusado também nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e de receber milhões de dólares em propinas. A jogada suja era com empresas de marketing esportivo. O cartola brasileiro José Maria Marin, que também foi presidente da CBF, chegou a ser preso por este mesmo caso. Preso na Suíça, foi extraditado para os Estados Unidos onde está em prisão domiciliar à espera de julgamento.
Quando Marin foi preso, em novembro de 2016, Ricardo Teixeira teve que sair correndo para o Brasil, senão poderia também ter ido em cana. Ele vivia desde 2012 nos Estados Unidos. Se Marin também tivesse conseguido fugir, certamente estaria por aqui, na mesma situação tranquila do colega. O problema é que o Brasil não extradita seus cidadãos, mesmo os piores. Não extradita e também não costuma investigá-los com rigor. E como estamos cansados de saber, também não pune, como demonstra muito bem este exemplo do cartola protegido por uma cidadania pela qual ele jamais teve respeito.
Duvido que a Justiça espanhola tenha confiança no Brasil, mesmo com o serviço exemplar que vem sendo feito pelo Ministério Público e alguns juízes, com destaque para o trabalho digno e eficiente na Operação Lava Jato. Entremeando a costumeira impunidade nacional, temos essa ressalva, que pode inclusive abrir caminhos para a restauração da dignidade no país. No entanto, por enquanto vivemos no que pode-se chamar de período de exceção no rigor com a corrupção. Por isso, creio que é melhor a Espanha não confiar. É capaz não só de inocentarem o nosso "cidadão", como depois ele pode até entrar com ação exigindo indenização.
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POR José Pires
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Imagem- Cercado de autoridades, o cartola Marin na estréia da Seleção Brasileira, na Copa de 2014. Se não tivesse sido preso na Suiça e extraditado para os Estados Unidos, sua situação não seria diferente no Brasil
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