De Belo Horizonte vem uma notícia, daquelas que costumo dizer que traz informação às avessas. Juca Ferreira disse à Folha de S. Paulo que a capital mineira talvez possa receber a exposição “Queermuseu”, que foi cancelada pelo Santander, em Porto Alegre. Ele diz que estão estudando a proposta da exposição para ver se “seria viável”. Espere aí, mas quem é Juca Ferreira?
Juca Ferreira foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma Rousseff e enquanto não ocupava oficialmente o comando da pasta foi braço-direito de Gilberto Gil, também no Ministério da Cultura, onde tinha tanto poder quanto o cantor baiano. Na prática, Ferreira é que tocava o ministério. Atualmente ele é secretário de Cultura de Belo Horizonte. Esse pessoal não fica no sereno. O eleitorado pode tirar pelo voto sua base de sustentação material ou o governo que os abriga ser retirado do poder por ilegalidades, como ocorreu com sua chefe Dilma Rousseff, que logo eles já estão ocupando o poder em outras administrações. Os imortais da cultura brasileira não estão na Academia. São da esquerda.
O aparecimento do homem da cultura nos 13 anos de governo do PT neste caso polêmico talvez sirva para uma melhor avaliação sobre o que ocorreu em Porto Alegre, que não pode ser restringido a um mero caso de censura. A questão é mais complexa, envolvendo uma batalha ideológica na qual, apesar da aparência até o momento, a esquerda é que vem levando vantagem. É provável que o pessoal do MBL gaúcho não tenha consciência da dimensão do que eles fizeram, pelo menos até o assunto ganhar o noticiário nacional, criando um debate cultural que não se via há muito tempo no Brasil. Mas as manifestações que levaram ao fechamento da mostra “Queermuseu” praticamente inauguram um processo político-cultural que terá muito peso no país, ainda mais com um ano eleitoral decisivo pela frente.
O debate deve esquentar. Se esta discussão fosse desenvolvida em bons termos, até que seria muito bom para o país. Mas com certeza não será em meio à calmaria que o MBL e setores da sociedade com uma visão política parecida a deste movimento discutirão cultura com a esquerda brasileira, que tem um espírito tão agressivo quanto o da turma que atuou contra a exposição em Porto Alegre. A diferença entre os dois lados é que a esquerda ocupa praticamente todos os espaços da cultura no país, inclusive na iniciativa privada, por meio de uma burocracia cultural fortalecida como nunca nos anos em que o PT ocupou o poder. Isso talvez possa explicar a bobeada da diretoria do Santander em promover a exposição e provavelmente traga uma luz para entender seu fechamento abrupto. Alguém da diretoria pode ter ficado muito irritado de ter tido a confiança traída.
Nesses 13 anos de poder do PT no governo federal, a esquerda brasileira foi tomando gradativamente todos os setores culturais pelo país afora. Tradicionalmente a cultura neste país sempre teve esse peso esquerdista. Com o projeto petista de poder, o domínio foi tomando fortes contornos ideológicos e adquirindo uma importância estratégica essencial. A cultura está sempre a serviço da agenda política da esquerda, conforme é o caso da mostra gaúcha no Santander, mas pode ser visto também em outras atividades culturais pelo país afora. E da cultura eles também se servem para manter seus quadros em atividade, com conforto material e poder, abrindo espaço apenas para quem pinta, dança, escreve e faz qualquer coisa da área da arte conforme a cartilha. O ressurgimento do ex-ministro Juca Ferreira — que andava sumido, mas agora acena com entusiasmo para o colega petista gaúcho — mostra que o projeto continua dominando o palco.
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POR José Pires
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