quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O exemplo de conduta de Sergio Moro

O juiz federal Sergio Moro deu uma entrevista ao Wall Street Journal, publicada nesta terça-feira, onde fez uma declaração muito importante nesses tempos em que o Brasil parece assolado por enxames de moscas azuis. Hoje em dia dá a impressão de que o único jeito de fazer algo que preste na vida é sendo presidente da República. Mesmo com as amplas referências de que isso é uma ilusão. Basta alguém se destacar em alguma coisa, que já surgem conversas de candidatura e logo já estão colocando seu nome em pesquisas e até montando a chapa completa e escolhendo partido para o fenômeno político.

Mas vamos à declaração de Moro ao jornal americano. Mais uma vez ele negou que vá se candidatar em 2018 e disse o seguinte: “Se eu entrasse para a política, daria uma falsa impressão sobre as razões de minha conduta. É possível influenciar positivamente a sociedade sem ser presidente da República”.

Esse ponto sobre as “razões de minha conduta” é essencial na negativa de Moro. Atualmente, quando alguém está fazendo algo de bom surgem especulações sobre sua entrada na política. Pode acontecer também que a pessoa já esteja ocupando um cargo, aí então aparecem as pressões para que abandone o serviço pelo meio. E com isso vem o descrédito sobre suas razões profissionais ou de conduta, como disse Moro, às vezes atingindo a totalidade do que ela vinha fazendo e atrapalhando toda uma realização de equipe.

Pode acontecer até da opção individual pela política contribuir para a desmoralização da própria instituição onde a figura picada pela mosca azul atingiu uma relevância que trouxe o papo de que candidatando-se ou apoiando determinado candidato é possível ter maior influência positiva.

Já vimos muito trabalho bom se perder em nosso país em razão desse comportamento, que cabe dizer que sempre foi muito forte na atuação da esquerda, que tem como prática antiga o comprometimento direto das pessoas com bandeiras políticas e até com projetos eleitorais ligados a partidos. Com isso, até obras musicais e literárias historicamente importantes acabam comprometidas unicamente com uma forma de pensamento, às vezes envolvidas em intrigas meramente eleitoreiras, de tal modo que depois fica muito difícil ouvir aquela música de que tanto gostávamos ou ler aquele autor cujo livro não saía da nossa cabeceira.

É disso que Sergio Moro está falando. E disse no momento certo, além de estar na posição ideal para o alerta sobre o risco do desmonte moral e profissional que pode ser causado pela ilusão da política como um meio mais rápido de alcançar determinados fins.
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POR José Pires

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