O jornal O Globo dá a notícia de que Sônia Braga e Caetano Veloso assinaram o manifesto “Eleição sem Lula é fraude”, em apoio ao chefão petista condenado em segunda instância por corrupção e réu em mais cinco processos de corrupção pesada e vergonhosa, sem falar nos inquéritos que correm e nas ilegalidades que ainda devem aparecer. O “ Brahma” não é fácil.
É bastante antiga a relação entre Caetano e Sônia Braga. Já rolou entre os dois inclusive uma paixão ligeira, da qual nasceram duas músicas muito bonitas, “Tigresa” e “Trem das cores”. Esta última é uma das canções mais bem resolvidas do compositor, na linha de suas criações mais simples, com um toque de crônica de alta qualidade. O verso “A seda azul do papel que envolve a maçã”, muito simples e muito fácil, sempre pareceu para mim uma das frases mais bem postas em uma música popular.
Já “Tigresa” é bem uma canção de época. Está datada, mas nem por isso perdeu a validade. É um retrato muito bem tirado de um tipo de mulher muito marcante dos anos 70, feito com uma habilidade que impede que a obra tenha ares de foto antiga. A imagem ainda é muito expressiva. Traz o calor de uma relação amorosa descompromissada com as formalidades de comportamento ainda muito fortes nessa época (Meninos, eu vi!), com a ditadura já encaminhando para uma finalização política bem amarrada por democratas habilidosos da oposição e setores mais sensatos do regime militar.
Desde que foi feita, “Tigresa” era associada somente a Sônia Braga, porém, há pouco tempo, em 2015, Nelson Motta revelou que a música na verdade teve duas musas. A outra é a atriz Zezé Motta. Quem viveu essa época com atenção consegue distinguir entre as duas, em cada referência da letra da canção, que a meu ver tem muito mais de Sônia do que de Zezé. Uma delas é o trecho em que ele diz que “as garras da felina” marcaram seu coração, “mas as besteiras de menina que ela disse, não”. Isso é puro Sônia Braga, grande atriz e mulher de muita fibra, que ajudou a remexer com vigor aqueles tempos tão travados. Esse “besteiras de menina” lembra os rompantes da atriz, até muito comuns naquela época em que tínhamos tão pouca informação e todo mundo era jovem, mesmo o Caetano e a Sônia.
interessante é que com o passar do tempo, Sônia Braga não largou suas besteiras de menina, como se viu em 2016 quando portou cartazes em apoio a Dilma Rousseff durante evento no festival de cinema de Cannes. Com isso, associou sua carreira a um bando de gatunos e incompetentes e marcou negativamente também o filme que protagoniza, no qual dizem que ela está muito bem. Hoje em dia ela é uma mulher madura, mas em política continua pensando como uma menina. E agora vem também Caetano Veloso, já passando dos setenta anos, ele também ainda com besteiras de menina. Que a obra de ambos amenize o vexame histórico dessas bobagens que nos tocam o coração de forma decepcionante.
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POR José Pires
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