Os buracos de bala na lataria do ônibus da caravana de Lula podem até ter sido forjados, como tentativa dos petistas se vitimizarem. Não seria a primeira vez que a esquerda dá um tiro no próprio pé. No entanto, quem tem espírito democrático e bom senso não pode cair na zoação equivocada que busca amenizar a violência contra a caravana de Lula, apontando o que o PT sempre fez de errado, como se a índole agressiva da esquerda e seu autoritarismo justificassem os bloqueios na entrada das cidades e os ovos e pedras atirados contra os petistas.
Os tiros podem mesmo não ser de adversários, mas o esclarecimento serve apenas para saber se houve de fato este atentado. A verdade é que na sua caravana política os petistas foram alvos, sim, de violência organizada contra o direito legal que todo partido ou grupo de pessoas tem de levar sua mensagem a população. O deputado Jair Bolsonaro vem fazendo a mesma coisa há meses. Sua mensagem política é tão violenta e fora de propósito quanto a da esquerda, no entanto é seu direito buscar o convencimento das pessoas. Desde que não haja uso do dinheiro público ou desrespeito à lei, qualquer um pode fazer seus discursos pelo país afora, mesmo que seja em cima de uma caixote de madeira no calçadão de uma cidade.
E ainda que exista algo de ilegal nas andanças do PT ou de qualquer outro partido, não cabe a criação de bandos de pessoas para intimidar e coibir pela força a caravana. Para isso existe a Justiça. Por mais que se saiba que é compreensível o alto grau de indignação com um político salafrário como Lula, o que se viu no Sul do país traz para a política brasileira um espírito de milícia que não cabe numa democracia. O tiro na lataria importa menos que o limite que vem sendo transposto, do respeito aos direitos políticos de cada um e à liberdade de expressão.
Cabe apontar também o risco de não condenar essas agressões, independente da péssima qualidade política do partido que faz a caravana e seu histórico de violência e desrespeito à lei, além do roubo aos cofres públicos e a quebra da economia. Calar sobre as agressões é um risco para o Brasil. Primeiro, porque os políticos que são favorecidos por este clima de intimidação e violência com certeza não manterão as agressões apenas neste nível e nem direcionadas exclusivamente aos petistas. E depois, se a eleição deste ano transcorrer dessa forma corre-se o sério perigo do presidente eleito manter depois, no poder, o mesmo método violento que o levou para lá.
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POR José Pires
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