quinta-feira, 29 de março de 2018

Contra a violência na política de qualquer lado

Os buracos de bala na lataria do ônibus da caravana de Lula podem até ter sido forjados, como tentativa dos petistas se vitimizarem. Não seria a primeira vez que a esquerda dá um tiro no próprio pé. No entanto, quem tem espírito democrático e bom senso não pode cair na zoação equivocada que busca amenizar a violência contra a caravana de Lula, apontando o que o PT sempre fez de errado, como se a índole agressiva da esquerda e seu autoritarismo justificassem os bloqueios na entrada das cidades e os ovos e pedras atirados contra os petistas.

Os tiros podem mesmo não ser de adversários, mas o esclarecimento serve apenas para saber se houve de fato este atentado. A verdade é que na sua caravana política os petistas foram alvos, sim, de violência organizada contra o direito legal que todo partido ou grupo de pessoas tem de levar sua mensagem a população. O deputado Jair Bolsonaro vem fazendo a mesma coisa há meses. Sua mensagem política é tão violenta e fora de propósito quanto a da esquerda, no entanto é seu direito buscar o convencimento das pessoas. Desde que não haja uso do dinheiro público ou desrespeito à lei, qualquer um pode fazer seus discursos pelo país afora, mesmo que seja em cima de uma caixote de madeira no calçadão de uma cidade.

E ainda que exista algo de ilegal nas andanças do PT ou de qualquer outro partido, não cabe a criação de bandos de pessoas para intimidar e coibir pela força a caravana. Para isso existe a Justiça. Por mais que se saiba que é compreensível o alto grau de indignação com um político salafrário como Lula, o que se viu no Sul do país traz para a política brasileira um espírito de milícia que não cabe numa democracia. O tiro na lataria importa menos que o limite que vem sendo transposto, do respeito aos direitos políticos de cada um e à liberdade de expressão.

Cabe apontar também o risco de não condenar essas agressões, independente da péssima qualidade política do partido que faz a caravana e seu histórico de violência e desrespeito à lei, além do roubo aos cofres públicos e a quebra da economia. Calar sobre as agressões é um risco para o Brasil. Primeiro, porque os políticos que são favorecidos por este clima de intimidação e violência com certeza não manterão as agressões apenas neste nível e nem direcionadas exclusivamente aos petistas. E depois, se a eleição deste ano transcorrer dessa forma corre-se o sério perigo do presidente eleito manter depois, no poder, o mesmo método violento que o levou para lá.
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POR José Pires

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