terça-feira, 19 de junho de 2018

A armação da defesa de Lula

Lula tem arrolado testemunhas de defesa com pelo menos duas intenções muito óbvias. Umas comparecem em juízo para fazer a propaganda dele como grande estadista e figura de alta respeitabilidade, como apontou nesta semana o juiz Sergio Moro, deixando muito bravo o jornalista Fernando Morais, que na posição de testemunha fazia com o advogado Cristiano Zanin algo parecido a um jogral, na exaltação de Lula tão mal ensaiada que as respostas se encaixavam com rapidez às perguntas, formando uma única frase.

Atualmente Morais escreve a biografia oficial de Lula e logo que o mensalão foi descoberto anunciou que já tinha praticamente finalizada a biografia de José Dirceu, que já era então ex-capitão da equipe de Lula, depois de obrigado a pedir demissão por causa do escândalo. Na época, os petistas temiam que a obra trouxesse revelações prejudiciais a Lula. O texto nunca foi visto. O jornalista alegou que a biografia estava em um computador que foi roubado de seu escritório. Isso mesmo: ele não tinha nenhuma cópia do valioso texto.

Outras testemunhas são chamadas para criar uma confusão política entre as imagens dos políticos, especialmente entre dois ex-presidentes, em benefício de Lula. É o que tentam fazer com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já depôs por duas vezes, a pedido da defesa do petista. Não tem dado muito certo. No último depoimento, nesta segunda-feira, o resultado foi desastroso para Lula, em razão da tremenda inabilidade do advogado Zanin, que costuma levantar temas que vão de encontro ao interesse de seu cliente, em admiráveis trombadas que já ficaram famosas. A desta segunda-feira foi um espetáculo.

Todo mundo sabe que atualmente o juiz Sérgio Moro é um dos brasileiros mais atarefados que existe, o que infelizmente obrigou que ele abrisse mão de julgar o escândalo de corrupção do pedágio no Paraná, ocorrido no governo de Beto Richa. Na decisão, Moro cita a sobrecarga de trabalho na Lava Jato. Em Curitiba, já são 51 as fases da operação.

Sabendo do excesso de trabalho do juiz, a defesa do chefão do PT apela até para depoimentos de pessoas que pela lei não se qualificam como testemunhas, como é o caso de parentes de investigados. Os depoimentos são ridiculamente ensaiados. Num deles, a esposa de Fernando Bittar, tido como um laranja de Lula, se refere ao condenado como “tio Lula”. Nas sessões, o juiz Moro consulta várias vezes o relógio, com cara de preocupado com a perda de tempo, quando tem tanta coisa mais séria por fazer.

No depoimento de Fernando Henrique Cardoso, a defesa de Lula foi desmontada no final por Moro, com perguntas muito simples. Zanin focou suas perguntas ao tucano nas palestras, que vem sendo usadas como justificativa dos milhões que Lula ganhou de empreiteiras. Finalizando o depoimento, o juiz perguntou a Fernando Henrique se no pagamento de suas palestras “tudo era declarado, transparente, em contrato”, ou se havia também o recebimento de “valores por fora”. Foi o que Zanin não perguntou, mas havia levantado o mote. Claro que o ex-presidente afirmou que tudo estava devidamente declarado.

É aí que está o ponto fundamental das encrencas de Lula. Ele recebeu uma dinheirama, sem que haja documentação legal dos pagamentos. Os petistas tratam o assunto com a histeria e a desonestidade de sempre, mas as lamentáveis encenações que tomam de forma abusada o tempo da Justiça poderiam ser evitadas com a apresentação da documentação dos ganhos, procedimento, aliás, que é obrigação de qualquer cidadão.
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POR José Pires

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