terça-feira, 12 de junho de 2018

Beto Richa e seu amigo que negocia delação premiada

O ex-governador Beto Richa poderá ter que encarar uma nova encrenca, com as denúncias de uma delação premiada que cita propinas envolvendo até sua família. O provável delator, Maurício Fanini, foi diretor da Secretaria de Educação do Paraná e diz ser amigo do governador desde 1983, quando ambos estudavam engenharia. Fotos comprovam a intimidade entre os dois, que permitia até viagens de turismo em dupla, acompanhados das esposas.

A RPC e o site G1 tiveram acesso à proposta de colaboração premiada feita por Fanini à Procuradoria-Geral da República (PGR). Uma das histórias mais interessantes contadas por ele teria ocorrido no dia em que foi falar com o governador Beto Richa e o encontrou apavorado, apagando mensagens e fotografias de seu celular. O encontro entre os dois foi logo depois de Fanini ser denunciado pela Procuradoria-Geral do Paraná na Operação Quadro Negro, esquema de fraudes na construção de escolas com o desvio de mais de R$ 20 milhões, descoberto em 2015.

O ex-diretor da Secretaria de Educação, que já foi preso duas vezes, está detido desde maio em Brasília, para onde foi transferido porque na capital paranaense corria risco à sua integridade física. É claro que na delação premiada de Fanini o destaque é para o ex-governador, que teve uma carreira de sucesso na política paranaense, começando na prefeitura de Curitiba e ocupando por duas vezes o governo estadual. As denúncias cobrem todo este período, com acusações de corrupção desde 2001, ano em que, conforme afirma o delator, Richa começou a cobrar propina, quando era vice-prefeito de Curitiba. Na época, Fanini era diretor de Pavimentação de Curitiba, indicado por Richa.

Segundo conta Fanini, as propinas eram usadas inclusive para despesas da família do governador, como o custeio de viagem de um de seus filhos e sua nora e na compra de um apartamento luxuoso para Marcello Richa, filho mais velho que o governador pretende lançar este ano na carreira política, como candidato a deputado estadual. O ex-diretor disse que o pedido de dinheiro para a viagem foi feito pela então primeira-dama do estado, Fernanda Richa, tendo ela perguntado se ele não tinha “doletas” para o filho viajar. Isso teria ocorrido na casa de Fanini, onde ela estava na companhia do marido Richa para assistir as oitavas de final da Copa do Mundo entre Brasil e Chile, em junho de 2014. A quantia de mil dólares foi prontamente entregue, contou Fanini. O delator guardava dinheiro em espécie em um armário escondido em seu apartamento.

A propina para a compra do apartamento de Marcelo teve outro intermediário. Segundo o ex-diretor da Secretaria de Educação, quem pediu o dinheiro foi Luiz Abi, primo do governador envolvido em outros escândalos. Na proposta de colaboração, Fanini diz que recebeu a confirmação do próprio governador. Ele afirmou que consultou Richa sobre o pedido, que disse que o valor seria usado para complementar a compra de um imóvel para o filho.

A proposta de delação premiada abrange os crimes conhecidos da corrupção política, como caixa dois, abastecimento de campanhas com propinas, que segundo Fanini o ex-governador faz uso desde a primeira campanha para prefeito de Curitiba. No entanto, o que dá um sabor diferente ao depoimento são as revelações da cumplicidade de um político poderoso na sua intimidade, com a companhia inclusive da ex-primeira-dama, que era amiga da esposa de Fanini. Já está pronta para um filme a cena do governador desesperado tentando apagar mensagens e imagens suspeitas de seu celular. E pode ser que haja espaço para algo assim na conhecida minissérie da Netflix baseada na Operação Lava Jato, que pelo jeito deve se alongar em muitas temporadas.

Claro que Beto Richa ainda tem a chance de dar aos autores da série a inspiração na criação de uma personalidade política vítima de calúnias. O ex-governador e demais acusados na delação se dizem inocentes e emitiram notas chamando Fanini de mentiroso e afirmando que ele não tem provas. É um direito deles. No entanto, advogados não costumam entrar em negociação de delação sem que o cliente disponha de farta documentação para ganhar os benefícios legais da colaboração com a Justiça.
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POR José Pires


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Imagem- O governador Richa em viagem de turismo com o amigo Fanini; no centro da
foto, a primeira-dama Fernanda Richa


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