Infelizmente, como é de costume na internet, o vídeo que circula se restringe a uma parte muito rápida da conversa. Fica só na bronca e por isso pode até até parecer que houve um mal estar. O jornal espanhol El País repassa uma gravação melhor, que se estende na conversa entre Macron e os jovens em volta, inclusive o impertinente, que saiu-se bem do episódio. Apesar do pito em público teve educação e respeito, que é como deve ser tratado qualquer mal entendido. Esta atitude é uma das lições deste episódio, nesses tempos em que qualquer desentendimento simples gera reações desproporcionais.
O evento público homenageava os 78 anos do dia em que Charles de Gaulle fez um pronunciamento pedindo que os franceses resistissem ao Nazismo. A França passa também por reformas na Educação. No diálogo com o grupo de jovens, o presidente francês comentou sobre isso e falou um pouco mais sobre a necessidade de se aplicar com seriedade nas atividades humanas.
Macron está certo. O tratamento adequado mantém bem estabelecidas a formalidade e a hierarquia, fundamentais nas relações sociais. Em parte, os problemas que enfrentamos têm o seu centro nesta confusão nas relações entre as pessoas, como causa e consequência. No Brasil, a dificuldade se dá na equivocada informalidade que chega até a forçar um tratamento de autoridades pelo primeiro nome. O costume é antigo e não é bom.
Os políticos gostam bastante disso. É uma regra de comportamento dos populistas. A impressão de proximidade pode garantir votos e a complacência com a incompetência e a roubalheira. E é uma arma do marketing político. Não é a toa que em época de eleição mesmo um político sisudo como o ex-governador Geraldo Alckmin começa a aparecer como “Geraldo”. Quiseram até passar a chamar o presidente Temer de Michel. É coisa de marqueteiro, mas tem raízes profundas na falsa cordialidade brasileira. Noutro exemplo, é lamentável ter que chamar pelo primeiro nome uma figura como o presidenciável Ciro Gomes, por exemplo. Ou o senador Renan Calheiros, o Renan. Mas pela prática estabelecida entre os brasileiros não há outro jeito. Se num texto eles forem tratados como Gomes ou Calheiros é provável que o leitor demore para saber de quem se trata.
É assim que as coisas são por aqui e nesta deformação social, um presidente brasileiro poderia até gostar muito da informalidade que o adolescente francês achou que pudesse ter com o presidente francês. Não é difícil inclusive que numa próxima eleição um marqueteiro o convencesse a mudar de nome político. Passaria a ser o “Manu”. São coisas do Brasil, do tipo que precisam ser consertadas.
A informalidade geralmente não passa de manipulação, pois na verdade não existe uma real proximidade. Isso é impossível, independente da qualidade do político e da autoridade. Além disso, num dado importante, o tratamento formal deixa mais claro os papéis, fixando com maior nitidez os compromissos e obrigações de cada lado, além evidentemente dos direitos. Claro que não é só por deixar de dar tapinhas nas costas e tratar os outros na intimidade que vamos consertar o Brasil. Mas ajuda.
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POR José Pires
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