sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Ciro Gomes e as complicações de seu plano do SPC

Desde que virou pré-candidato, Ciro Gomes vem falando que vai tirar o nome de milhões de brasileiros do SPC. É uma quantidade enorme de pessoas — 63 milhões — que serve como retrato da condição miserável em que o PT deixou o país. O problema desses devedores é grave, no entanto até quem entende de economia menos que o Jair Bolsonaro sabe que a solução mais confiável é ativar a economia brasileira e deixar por conta de cada um suas dívidas pessoais. A interferência de um presidente nesta questão deve ser por via indireta, na melhor gestão da economia brasileira e não colocando o Estado para administrar um problema a mais, que vai certamente exigir energias que podem muito bem ser aplicadas de forma mais ampla e com mais lógica.

Um defeito central da ideia de Ciro Gomes está no conceito, que é o de pagar as contas do povo. Imaginem onde isso vai parar. É claro que ele diz que não é bem assim, traz exemplos de subsídios e perdão de dívidas de empresários. Mas se é desse jeito, tão em conformidade com técnicas da macroeconomia, então a apresentação deveria ter sido de outra forma. Ele trouxe o assunto com o apelo de uma bolsa família do SPC. Pensem quantos votos isso não pode dar. O tema permite também uma consideração inevitável do ponto de vista eleitoral. Se o candidato não tem vergonha alguma de prometer um negócio desses numa eleição nacional, dá para suspeitar o que ele e sua família fazem para ganhar votos no Ceará.

Mas fui conferir se o candidato já apresentou explicações mais detalhadas sobre a proposta. No seu site tem o que chamam de “cartilha”, que nada mais é que um folheto de propaganda eleitoral. Mas está lá num dos itens o que pode ser uma complicação da grande sacada econômica. Na tal cartilha, a justificativa do programa já não é boa, meio naquele conceito de luta de classes bem próprio do PT, partido do qual Ciro foi aliado nos quatro mandatos no Governo Federal, quando os brasileiros mais se apertaram para ficar com o nome sujo no SPC. O texto de apresentação joga devedores contra empresários, que conforme diz o candidato, também recebem ajuda do governo e ninguém reclama.

No item 6 o candidato diz que vai organizar os devedores em grupos de 5 ou 10 pessoas que se responsabilizam umas pelas outras. Ele chama isso de Aval Solidário. Se uma pessoa do grupo deixar de pagar a prestação, a conta fica para os outros membros. A conclusão óbvia é que o devedor torna-se avalista de alguém que ele não conhece e terá de pagar a conta dessa pessoa se por qualquer razão não houver a quitação. Com esse formato, não é difícil que ocorra um efeito-dominó em vários grupos, contagiando o processo e milhões de pessoas parando de pagar. O candidato garante que sua proposta não vai fazer o governo perder dinheiro. Só se a iniciativa privada aceitar pegar de volta o calote. Eu tenho a impressão de que nessa conversa de tirar o nome dos brasileiros do SPC vem embutido o enorme risco de uma pirâmide, que por justiça ao gênio criador pode muito bem ser chamada de Pirâmide Ciro Gomes. Ele merece a homenagem.
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POR José Pires

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