Desde a redemocratização brasileira, nos anos 1980, que não vem existindo espaço para dois extremos no segundo turno de uma eleição presidencial. Essa impossibilidade de extremismos ideológicos concentrarem a maior parcela da preferência dos eleitores teve influência positiva até nos momentos políticos em que o PT trabalhou com mais eficiência para uma polarização radical em favorecimento de seu projeto político e ideológico. Na primeira eleição do PT este sentimento nacional era tão forte que para ganhar a eleição Lula foi até obrigado a mudar de discurso e se comprometer com idéias contrárias ao projeto histórico de seu partido.
Em cada eleição brasileira, no final de cada campanha, às vezes no dia anterior à hora do voto, costuma surgir uma onda eleitoral criadora de um quadro onde o bom senso prevalece, com a determinação de um segundo turno que demonstra um equilíbrio entre um eleitorado que aposta em soluções radicais e neste outro tipo de eleitor, do qual estou falando, que procura preservar o entendimento, a tolerância, a necessidade de uma razoável harmonia de propósitos, sem a qual o destino pode ser o abismo, independente que para chegar lá o país vá pelo caminho da direita ou da esquerda.
É possível perceber essa vibração política positiva até no entorno da gente, com amigos repensando suas preferências, em alguns casos até abandonando tendências políticas na substituição por uma candidatura mais eficiente, mesmo que seja apenas com o objetivo de evitar maiores transtornos. Quem já viveu bastante teve a oportunidade de observar in loco essas transformações, em todo tipo de eleição. É o que parece estar ocorrendo nesses dias nesta eleição presidencial, em uma onda que pode evitar um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
Se formos avaliar com os fundamentos históricos recentes no plano eleitoral, não vai ser encontrado nada que referencie esses resultados de pesquisas que apontam para uma polarização entre esquerda e direita no segundo turno. Pelo que o Brasil viveu até agora não há espaço para Jair Bolsonaro e o PT ao mesmo tempo num segundo turno. A experiência prática demonstra que vai um ou outro, tendo como adversário uma candidatura impulsionada por esta onda eleitoral praticamente espontânea que atua como uma espécie de terceira via, com eleitores movidos basicamente pelo bom senso.
Até agora o processo eleitoral tem se movimentado dessa forma, em todas as eleições passadas. Se for diferente este ano, então terá ocorrido uma séria mudança cultural, com reflexos na organização política nacional daqui por diante, colocando o Brasil numa situação complicada. Bolsonaro e Haddad vitoriosos seria o sinal de que estão esgotadas as forças deste eleitorado de que estou falando, com o bom senso fora do segundo turno e com menor influência nas grandes decisões do país.
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POR José Pires
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