sexta-feira, 23 de novembro de 2018

General Mourão: o vice de Bolsonaro pede calma no pedaço

O general Hamilton Mourão se manifestou sobre o hábito do presidente eleito Jair Bolsonaro de provocar guerras sem necessidade. Bolsonaro pode provocar complicações por causa de opiniões suas sobre as relações com a China e da intenção de mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, neste caso interferindo sem necessidade em um conflito antigo e explosivo. Foi no embalo do presidente americano Donald Trump que Bolsonaro comentou os assuntos, lucrando eleitoralmente com meras bravatas do ponto de vista do poder econômico, político e militar do Brasil. Além disso, tem o fato dele estar criando encrencas novas diariamente, quando já tem uma porção delas prontinhas para serem enfrentadas a partir de janeiro.

Sobre a questão da China, o vice Mourão ponderou com uma visão militar sobre o problema. “Uma briga com a China não é uma boa briga, certo?”, questionou, explicando que se deve comprar brigas que se pode vencer, o que obviamente não é o caso desta. Como exemplo da delicadeza estratégica, ele lembrou que 34% das exportações brasileiras são para os chineses, afirmando de forma objetiva que “não podemos fechar esse caminho, pois tem outros loucos para chegarem nele”.

É interessante o confronto da opinião do general Mourão com a do capitão Bolsonaro porque demonstra diferenças de qualidade calcadas não só na filosofia pessoal como na experiência de vida. Revela também algo que já é nítido. O verdadeiro interlocutor com as casernas não é o titular, mas seu vice. E isso não ocorre apenas pela diferença de patentes. Apesar de pretensamente representar os militares e ter se aproveitado muito disso em sua carreira política, Bolsonaro não tem exatamente o perfil de uma carreira militar exemplar. Foi forçado a retirar-se prematuramente do Exército Brasileiro para ser vereador no Rio de Janeiro, que pode ser interpretado como uma estranha escolha, mas a opção foi mais pelas circunstâncias muito ruins criadas por seu péssimo comportamento nas casernas.

O general Ernesto Geisel já disse que Bolsonaro “é um mau militar”, o que de fato nota-se na sua intempestividade às vezes insana, da qual ele tirou bom proveito em performances midiáticas, beneficiado por uma esquerda cretina e ladra, além de servir-se de forma irresponsável do esvaziamento e a desmoralização da política. À frente de uma guerra de verdade, Bolsonaro levaria à destruição de várias tropas, antes de ser retirado do comando. Mas o perfil de brigão funcionou bem para uma carreira de político de baixo clero, o que não tenho dúvida nenhuma que não serve no comando de um país com o peso internacional do Brasil. Bolsonaro alcançou o poder sem estratégia alguma, favorecido mais por erros do terreno e do adversário do que pela sua real capacidade. E pelo que está demonstrado com fatos, também segue sem estratégia até janeiro, quando terá de enfrentar o que pode ser comparado a uma guerra de grandes dimensões.

O ideal seria que o presidente eleito evitasse brigas desnecessárias, o que foi explicado com objetividade pelo general que é seu vice. Mas ocorre o contrário. Bolsonaro deveria estar concentrado em armar estratégias de enfrentamento do que já tem pela frente, em variados problemas que exigem equilíbrio e paciência, alguns com a exigência de longo tempo para obter-se bons resultados, outros com a necessidade de um trabalho aplicado de várias gerações — como é o caso da falência da educação e da degradação cultural brasileira, com o aparelhamento indecente e destrutivo tecnicamente feito pela esquerda.

Mas não é o que acontece, primeiro pela razão do comandante (ou falta dela), que é turrão de personalidade e com pouco conhecimento e experiência real de administrador e líder. Além das encrencas diárias que arruma, quando não consegue largar o WhatsApp e o Twitter em vez de dedicar-se ao estudo sério dos nossos problemas, Bolsonaro vem compondo uma equipe de briga. E pelo raciocínio até aqui creio que é fácil notar que não faço um elogio. O presidente eleito não tem o discernimento nem senso de oportunidade de aproveitar mesmo certas qualidades oferecidas pelas circunstâncias e a boa vontade de brasileiros preocupados com a gravidade da nossa atual condição — ainda que venham ao som contagiante da trilha musical de Ayrton Senna. Seu temperamento, sua psicologia pessoa e dos que o cercam, é pelo confronto e exibicionismo valentão. Pois eu acho que na falta de boas vozes da política ele devia ouvir seu vice, pois mesmo nas brigas que já estão postas não é na porrada que bons resultados podem ser alcançados.
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POR José Pires


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Imagem- Para onde vai isso tudo? Foto de Valter Campanato, Agência Brasil

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