O amigo da família Bolsonaro e ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, o agora famoso Fabrício Queiroz, poderia ter resolvido fácil a questão dos depósitos descobertos pelo Coaf em sua conta. Como se sabe, houve uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na sua conta, no período entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017. Ele foi assessor do filho do presidente eleito Jair Bolsonaro até dois dias antes do MP solicitar à Justiça autorização para a Operação Furna da Onça, coincidência que torna tudo ainda mais suspeito. Houve também uma sincronia perfeita entre a exoneração de Queiroz e sua filha, Nathalia Melo de Queiroz, nomeada no gabinete de Jair Bolsonaro, na Câmara dos Deputados. Pai e filha saíram exatamente no mesmo dia.
Claro que tudo pode ser apenas coincidência, além de haver uma explicação razoável para o fato de Queiroz percorrer 30 diferentes agências bancárias localizadas em 14 bairros cariocas, sacando dinheiro vivo em cada uma delas. Quem é que não tem alguma mania? Como eu disse, existe um jeito fácil de acabar com tanto mistério. Bastaria Queiroz ter o procedimento de qualquer pessoa honesta: pega-se a documentação bancária e qualquer outro documento que justifique a posse de tanto dinheiro e pronto. Nem precisa se apresentar pessoalmente. Havendo algum impedimento de saúde, outra pessoa poderia representá-lo, talvez seu advogado ou até mesmo seu ex-patrão Flávio Bolsonaro, que deve ter interesse no esclarecimento. Qualquer um poderia acabar com as suspeitas, que atingem também Jair Bolsonaro, que dentro de uma semana toma posse como presidente da República.
O caso poderia complicar apenas Flavio Bolsonaro e não seria pouca coisa para um governo que está para começar. Mas existe também o depósito de R$ 24 mil, feito por Queiroz para a futura primeira-dama. A explicação de Bolsonaro não convence, ainda que dê para entender que ir ao banco é de fato uma tarefa muito chata, o que aparentemente não é um problema para Queiroz. Mas o problema não é apenas este depósito. As suspeitas sobre o envolvimento do presidente eleito estão ligadas também ao rodízio de funcionário entre Brasília e o Rio, feito por ele e o filho, em parceria com a família Queiroz.
Nathalia Melo de Queiroz esteve em cargo nomeado no gabinete de Flavio, até dezembro de 2016, quando então passou a servidora de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. No entanto, ficava no Rio, onde trabalhava como personal trainer. No período investigado, Nathalia repassou R$ 97.641,20 para a conta do pai, o que equivale a 99% do pagamento líquido no gabinete do filho de Bolsonaro na Alerj. O caso é cheio de interações familiares, que juntam pais e filhos, com as famílias Queiroz e Bolsonaro entrelaçadas, em meio a muitos saques em dinheiro vivo.
Mas enfim, embora exista um jeito fácil de eliminar tantas suspeitas, até agora nada foi feito. O Queiroz sumiu e o filho de Bolsonaro diz que o problema não é dele. O resultado prático é que o novo governo deve começar com um integrante a mais, ofuscando todos os outros membros da equipe. Ao subir a rampa do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro leva com ele o Queiroz.
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POR José Pires