Os seguidores de Olavo de Carvalho, auto-intitulados “olavetes”, que andavam festejando a influência do conhecido professor de filosofia no governo de Jair Bolsonaro, agora começam a ter que suportar os dissabores de freqüentar o poder federal. Nesta quinta-feira o governo Bolsonaro deu mais um de seus recuos e suspendeu a nomeação de um discípulo de Olavo. A exoneração aconteceu em um ministério essencial para a pregação política do filósofo, o Ministério da Educação, atingindo o Enem, um ponto vital no ataque à chamada “cultura marxista”, que vem sendo denunciada há anos por Olavo como uma manipulação sobre o destino do país. Esta foi uma base dos intempestivos de Jair Bolsonaro que lhe deram fama como deputado e fez dele opção preferencial do sentimento antipetista que tomou conta do eleitorado.
No Enem, o presidente Jair Bolsonaro resolveu suspender a da coordenação o economista Murilo Resende Ferreira. O recuo é típico desse governo, com a exoneração acontecendo poucos dias depois do próprio Bolsonaro ter elogiado Ferreira em um Twitter. O presidente saiu em defesa da nomeação, que vinha desencadeando polêmicas. Ferreira não tem experiência na área de educação básica. Além disso, apareceram críticas vindas do MBL, movimento que apóia o governo Bolsonaro. Um de seus líderes avisou no Twitter que o novo coordenador do Enem havia sido expulso da organização social por ser “um maluco completo”, categorização que não é pouca coisa entre a rapaziada do MBL.
A demissão do discípulo de Olavo ocorre na pasta onde o professor indicou o próprio ministro Ricardo Vélez Rodríguez, encaixado no governo exatamente com a função política de ressaltar a missão de “desesquerdização” do Brasil propalada por Bolsonaro. A nomeação errada para o Enem vem se somar a outro desgaste recente na Educação, com a publicação de uma licitação para a compra de livros didáticos que incluía especificações absurdas, como a dispensa de qualidade de impressão dos livros e cuidado com a revisão dos textos.
Olavo de Carvalho começa a experimentar as contradições reais do exercício de seu pensamento, com problemas criados por um equívoco que, por sinal, é bastante antigo na relação entre intelectuais e o poder. Ele embarcou em uma onda liderada por uma personalidade popular sem ter antes estabelecido uma doutrina e qualificado quadros para encarar o trabalho. Será interessante acompanhar o desenvolvimento agora desta relação, em meio aos atropelos de um governo tomado pela intempestividade e a inexperiência, com uma impressionante dificuldade de aplicação no estudo e no planejamento de ações.
Não são bons os prognósticos desta, digamos, discussão de relação. Olavo é conhecidamente de pavio curto e o governo Bolsonaro tem muita dificuldade de se recompor, mesmo porque não tem base sólida para se reposicionar e consertar erros. O presidente não tem sequer partido organizado. Seu PSL é uma maçaroca de figuras ambiciosas, que não se entendem nem se criticam a China ou fazem caravana para importar tecnologia de controle de massa da ditadura comunista. É o “probleminha” de que falei, com responsabilidade do próprio Olavo de Carvalho, sobre querer fazer a História andar mais depressa sem antes estabelecer as mínimas bases para a difícil tarefa.
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POR José Pires
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