Jair Bolsonaro não é um bom garoto-propaganda da Reforma da Previdência. E não estou dizendo isso por causa de sua personalidade destrambelhada, demonstrada de forma impactante nesse episódio da demissão do ministro Gustavo Bebianno, quando, numa só tacada, demonstrou total falta de lealdade com parceiros e com pessoas motivadas a se articular para resolver problemas de governo. Só não entende o recado quem for muito besta. Quando Bolsonaro estiver metido em encrenca, o político que não tomar cuidado ao dar-lhe a mão pode acabar ficando mais arrasado que o presidente.
O complicador de Bolsonaro no papel do presidente com a proposta de reforma é sua trajetória política como deputado federal. Na Câmara, ele foi sempre contrário a essa questão, do mesmo modo que se posicionou com radicalismo no ataque a tentativas de organização e do controle fiscal por parte do Governo Federal, independente do partido que estivesse no governo. Bolsonaro foi contra até o Plano Real. Militou e votou contra um plano econômico da maior importância, que ficou comprovado ter sido fundamental para evitar que o Brasil caísse num buraco de onde dificilmente se livraria um dia.
No caso da Reforma da Previdência, sua atuação contrária como deputado foi ainda mais extremada, aproveitando para defender privilégios, garantindo votos entre os militares e popularidade entre os milhões de desavisados sobre a imprescindível necessidade da reforma. Mexer na Previdência foi sempre um risco sério de impopularidade e muitos políticos responsáveis e muito mais qualificados que Bolsonaro deixaram de se eleger por não concordar em atuar de forma demagógica numa grave questão econômica.
Bolsonaro atuou de forma espetacular contra a Reforma da Previdência e teve largos benefícios eleitorais, atingindo com essa e outras demagogias insensatas um sucesso inédito na política brasileira, se elegendo presidente da República. Sua trajetória é a melhor propaganda contra a Reforma da Previdência e o pessoal que está hoje na Câmara dos Deputados sabe muito bem disso.
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POR José Pires
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