segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Vélez Rodríguez, o ministro patrioteiro que quer fazer a estudantada cantar o hino nacional

Num governo danado para criar complicações desnecessárias é do Ministério da educação que vem uma porção delas. O ministro Ricardo Vélez Rodríguez é um desastre de tal proporção que toda vez que fala com a imprensa a encrenca é certa. Uma entrevista recente, dada para a revista Veja, obrigou a uma retratação quase imediata, pois o ministro — nascido na Colômbia — disse que “o brasileiro viajando é um canibal”.

Para chegar a esta generalização grosseira sobre os habitantes do país pelo qual foi generosamente acolhido, por certo Vélez Rodríguez deve ter se baseado nas histórias de brasileiros mal educados que aprontam no exterior. A generalização idiota permite dizer que se for usado o mesmo raciocínio torto do ministro pode-se chegar também a conclusões igualmente estúpidas sobre quem nasceu na Colômbia.

E uma barbaridade dessas tinha que vir logo do Ministério da Educação, onde com certeza o pessoal deve ter muito o que fazer, não só para consertar o estrago provocado em mais de dez anos de “política educacional” do PT, como para fazer a pasta funcionar ao menos no básico. Sobre esta parte, digamos, mais trivial, os indicativos são de que o trabalho não está andando.

Mas continua aparecendo coisa esquisita na pasta da Educação. Parece que o ministro anda com tempo de sobra para inventar. Nesta segunda-feira o ministério mandou e-mail a todas as escolas do país pedindo que os estudantes sejam perfilados cantando o hino nacional e que filmem as crianças e os vídeos sejam enviados ao governo.

A notícia corre a internet. O Ministério da Educação pede também que seja lida para os estudantes uma carta de Vélez Rodríguez. A carta termina com “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, slogan do governo Bolsonaro, que foi também de sua campanha. Felizmente não pedem palanques, o que descomplicará bastante mais esta tarefa dos professores brasileiros, que o ministro deve achar que andam com espaços vazios na carga horária.

Vélez Rodríguez já está tendo que explicar melhor sua pretensão. “Isso é ilegal, o MEC não tem competência para pedir nada disso às escolas”, já avisou o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares, Arthur Fonseca Filho. A mensagem do ministério foi enviada também para escolas particulares. Logo a assessoria de imprensa do MEC informou que a carta é apenas uma recomendação.

Ah, não era uma ordem? Que bom, mas o clima criado com essa infeliz ideia tem muito a ver com outro slogan de exaltação patrioteira, de um pouco antes de Vélez Rodríguez chegar ao Brasil, quando na metade da década de 1970 a estudantada era obrigada a cantar o Hino Nacional e se perfilar nos pátios das escolas. O slogan era “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

O ministro talvez não saiba, mas quem foi obrigado quando criança a fazer esse papelão sabe que em vez de aumentar o espírito cívico da molecada, cantar hino serve para chatear, afastando-os desse sentimento. Se Vélez Rodríguez quiser fazer um bem para o Brasil, que cumpra sua obrigação no cargo. O que estimula o espírito cívico é educação de qualidade.
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POR José Pires

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