Não há porque surpreender-se com o que Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira, postando no Twitter um vídeo mais que obsceno. É pornografia do mais baixo nível. Este é o cara que foi escolhido como presidente da República na última eleição, no que foi um dos grandes erros políticos cometidos depois da redemocratização do país, após o fim da ditadura de 1964. Releve-se em parte o engano do eleitor brasileiro em razão da má-qualidade do lote de candidatos oferecidos pelos partidos, além de servir também como atenuante a presença do PT, se impondo como referência política que faz muitos preferirem até o capeta.
Que Bolsonaro é um sujeito totalmente sem noção já era comprovável em uma coleção imbatível de provas gravadas em vídeos ou em entrevistas a jornalistas. Ele mesmo fazia questão de mostrar-se do pior modo possível, expondo suas grosserias com um orgulho que fazia desconfiar da sua sanidade mental. A direita fala bastante em esquerdopata. Que tal direitopata?
Sempre ficou muito claro que o capitão que virou político era um desajustado. E para não ficar dúvidas sobre isso, basta conferir avaliações de sua personalidade feitas na caserna por oficiais do Exército nas ocasiões em que ele teve que responder a processos internos por indisciplina e deslealdade.
Entre 1987 e 1988, Bolsonaro foi julgado duas vezes a partir de inquéritos internos, sendo considerado culpado por unanimidade por três oficiais militares. A partir de um recurso, depois ele conseguiu a absolvição no STM. O interessante são as avaliações de sua personalidade feitas nessa época.
Ele é descrito como tendo "desvio grave de personalidade e uma deformação profissional". Anos depois o general Ernesto Geisel teve uma conclusão semelhante: “Bolsonaro é um mau militar”. A afirmação do ex-presidente é de 1993, feita em uma entrevista na qual ele faz pesadas críticas a oficiais de linha-dura, com os quais Bolsonaro era alinhado na caserna. Bolsonaro surgiu na conversa como uma das figuras que perturbavam o velho general para que ele patrocinasse um golpe contra o governo Sarney. Notem que anos depois das trapalhadas que forçaram sua saída do Exército, Bolsonaro não havia mudado nada.
Segundo um oficial superior de Bolsonaro, ele era repelido ao tentar liderar oficiais subalternos “tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos". Esta última avaliação é a descrição perfeita do que é Bolsonaro nos dias de hoje, postando vídeos obscenos no Twitter, quando deveria estar focado no estudo da montoeira de problemas brasileiros que precisam ser enfrentados com urgência.
Como se vê, não faltaram avisos sobre os mau bofes da figura que acabou virando presidente. São alertas que já vem de longe, documentados pelo próprio Exército Brasileiro.
No entanto, a distração dos brasileiros foi tão grave que nem os militares tiveram a precaução de se distanciarem, tanto no aspecto físico como no aspecto institucional, de um político que além de ser uma vergonha alheia coletiva coloca em risco a imagem do próprio Exército Brasileiro no plano mundial.
Além do constrangimento local, essas barbaridades que Bolsonaro vem fazendo repercutem no exterior, dando aos estrangeiros a pior impressão de um militar como presidente do Brasil, com as características grotescas de um milico de republiqueta de bananas. Uma boa parcela de brasileiros sente imensa vergonha de ter um presidente desses, de modo que deve ser muito pior para um militar. Afinal, é um deles que está fazendo este papel grotesco.
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POR José Pires
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